quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Resenhas do dia (ou do semestre??)

Blind Guardian – At the Edge of Time (disco – 2010)

1 – Sacred Worlds (9:19)
2 – Tanelorn (Into the void) (5:58)
3 – Road of No Release (6:30)
4 – Ride into Obsession (4:47)
5 – Curse my Name (5:49)
6 – Valkyries (6:34)
7 – Control the Divine (5:25)
8 – War of the Thrones (Piano Version) (4:55)
9 – A Voice in the Dark (5:41)
10 – Wheel of time (8:56)

A cada quatro anos ocorrem dois eventos importantes no planeta: uma Copa do Mundo é disputada e um disco de estúdio do Blind Guardian é lançado. Ok, também ocorrem eleições no Brasil, mas isso é para os pobres diabos que se importam com a vida real.

Desde a pérola “Nightfall in Middle-Earth” de 1998 os alemães lançam discos novos apenas a cada quatro anos, principalmente por terem evoluído seu já complexo power metal para algo bem mais intrincado, com várias camadas de voz, orquestrações, linhas de guitarra constantemente soladas, etc. Sendo assim, não dá para dizer que qualquer música seja de baixa qualidade. Apenas existem aquelas que chamam menos a atenção, por não terem um refrão particularmente grudento ou um riff particularmente inspirado. Por conseqüência, não temos discos ruins, apenas aqueles que reúnem menos músicas de destaque, como é o caso do antecessor “A Twist in the Myth” de 2006.

Se você acha que fiz toda essa preleção para dizer que o disco novo é meia-boca, não se preocupe: na verdade, deve ser o melhor desde o próprio “Nightfall...”, superior ao “A Night at Opera” de 2002 e bem além do “Twist...”. O vocalista Hansi Krüsch prometeu “o disco mais bombástico e épico” da banda, mas não é bem assim. As músicas se dividem bem entre as firuladas e as diretas. E isso não é algo negativo, porque pompa demais às vezes cansa, como em alguns momentos do “A Night...”. Quanto às letras, não vi muita coisa delas ainda, pois é claro que minha cópia digital mandada diretamente pela banda com autorização não possui encarte. Mas Tolkien novamente fica de fora e a banda explora outros temas e o trabalho de outros autores de fantasia.

A primeira música cumpre com o prometido, pois é efetivamente a música mais sinfônica que a banda já compôs. Lançada há uns dois anos em uma versão mais simples, para promover um jogo de computador, “Sacred Worlds” ganhou uma overdose de esteróides e um acompanhamento orquestrado fantástico. Aqui a orquestra é essencial e dá todo o clima à musica, não só enrolação. Os instrumentos metálicos não ficam atrás e fica fácil entender porque os discos da banda demoram quase um ano apenas na mixagem. Complemente com um refrão bem grudento e temos aqui um excelente início.

A seqüência não poderia ser mais diferente: “Tanelorn” é uma pancadaria seca e parece ter sido propositalmente feita para lembrar a fase pré-“Nightfall...”: rápida, poucos coros e sem instrumentos alternativos. Assim, Hansi tem espaço para brilhar e mostrar que (em estúdio) ainda mantém toda a forma. O problema de vários cantores de metal melódico é que, ao ficar cantando agudo e limpo o tempo todo, fazem as músicas perderem agressividade (Fábio Lione, Timo Kotipelto, estou olhando para vocês). Já Hansi rasga a voz até quando canta calmamente em baladas! Não é à toa que na internet circulam “Verdades” ao estilo Chuck Norris sobre o cantor (“Não se usa um afinador para descobrir qual nota Hansi Kürsch cantou. Usa-se um sismógrafo”, “Quando Hansi nasceu, começou a berrar. Este momento ficou conhecido como Big Bang”).

Pulando para a quinta faixa, temos a primeira música acústica do disco. Mas ela não caminha no sentido “alaúdes em uma fogueira na floresta” de uma “Bard’s Song” ou “Skalds and Shadows”. Está mais para uma música normal do Blind, com bateria e camadas de voz, mas feita (quase só) com instrumentos acústicos, tendo uma pegada folk bem acentuada. A paradinha com crescendo aos dois minutos é destaque absoluto. Esta e “Sacred Worlds” são as duas faixas do disco que entra facilmente na lista dos clássicos.

Um pouco mais à frente encontramos uma nova balada, um pouco menos folk e mais “feliz”, mas também de alta qualidade. Vem com um “Piano version” no nome, mas não ouvi nenhuma outra versão, nem nos extras, e do jeito que está ficou muito bom.

Logo em seguida, a porrada das porradas, o primeiro single “A Voice in the Dark”. Tem uma introdução bem pesada que lembra os tempos de flerte com o trash do “Follow the Blind”, segue à toda velocidade e culmina em um refrão melódico. Uma grande música também.

Para fechar, mais uma música com extensivo uso da orquestra. “Wheel of Time” parece “And Then There was Silence” no sentido de ser uma música bem dinâmica, com várias mudanças de andamento e partes diferenciadas. Algumas melodias médio-orientais dão um toque especial. Mais uma música de destaque, embora eu ache que fique atrás de “Sacred Worlds” como a música épica e grandiosa do álbum.

As faixas restantes caem na categoria de menor destaque, mas de acordo com o que foi falado no início da resenha. Todas são de alto nível, com alguns trechos mais destacados, e melhores do que qualquer coisa que o Stratovarius já tenha feito.

Concluindo, “At the Edge of Time” mantém o Blind no topo do metal mundial, e espanta alguns sinais de desgaste que apareceram no último lançamento. Não é um disco onde praticamente tudo seja destaque, como “Imagination from the Other Side” e “Nightfall..”, mas pode tranquilamente assumir um posto junto a “Tales from Twilight World” e “Somewhere far Beyond” no segundo escalão da excelente discografia da banda. Agora é esperar a turnê e ver como diabos eles pretendem transpor “Sacred Worlds” e “Curse my Name” para os shows ao vivo, porque fácil não será!

NOTA: 9,0.