E
eis que estou de volta, dos trinta e cinco graus da Grécia para os dez de
Floripa. Voltar para o frio e trabalho é meio deprê, mas também tem bastante
coisas boas, principalmente reencontrar as pessoas e dormir na própria cama.
Mas vamos logo ao resumo desta última semana, além das conclusões finais desta
viagem.
A
nova jornada grega começou com o único estresse verdadeiro desta viagem. Meu
vôo de Dublin ia para Londres, e dali pegaria outro para chegar às seis em
Atenas, e dali eu teria duas horas para atravessar de um lado a outro da região
metropolitana e pegar o último barco do dia para Égina. Se pegasse as malas
rápido, daria para pegar o trem das 18:33. De outra forma, teria que abrir o
bolso e pegar um taxi. Mas tempo tinha de sobra, bastava o vôo não atrasar.
Na
verdade, ele podia até atrasar. Quinze minutos. Meia hora. Quarenta e cinco
minutos. Só não dava pata atrasar UMA HORA E VINTE, como aconteceu. E não foi
por algum imprevisto muito acidental, pois quando cheguei em Londres, dez da
manhã, já indicava lá que atrasaria todo esse tempo. Passei as próximas horas
fazendo cálculos mentais e cada vez mais vendo que não iria rolar. A internet
gratuita do aeroporto não funcionava e a amada British Airways nem me deixou
entrar na sala vip para minimamente compensar o seu vacilo. O jeito foi pagar
por alguns minutos de internet, para avisar o dono do hotel em Égina que eu
talvez não chegasse a tempo, e fazer uma reserva às pressas em outro hotel na
beira do porto. Teria que dormir por ali mesmo e ir para Égina na quarta de
manhã, ficando sem um dia inteiro sossegado para a ilha (já que, no plano
inicial, voltaria na quinta de noite).
Se
eu chegasse em Atenas em um horário que sem dúvida impossibilitasse a chegada,
teria parado de me preocupar. Mas o vôo chegou exatamente às sete. Então a
passagem pela capital começou da mesma maneira que terminou a última: correndo.
Fui apressado para a esteira da bagagem, e foram torturantes minutos até ela
aparecer. Nova corrida para sair do aeroporto, mas, como os ingleses são chatos
e paranóicos, cheguei em um terminal que me obrigava a passar novamente pelo
controle de passaporte. Ali, dei a furada de fila mais linda desse mundo, e
logo estava liberado para chegar nos táxis. Era sete e vinte. Perguntei para o
taxista quanto era e quanto demorava. Cinquenta euros e mais ou menos meia
hora. Esse "mais ou menos" me deixou de cabelo em pé, pois não tinha
tempo para "mais". Imagina gastar essa grana e no fim não chegar a
tempo. Falei que tinha que estar lá em menos de meia hora, e o taxista (que não
falava inglês) fez uma cara de "é, talvez". Toquei aquele foda-se e
pulei no carro.
E,
também como ano passado, no fim deu tudo certo. O taxista tocou o pé fundo
pelas rodovias da Grande Atenas, e cheguei no porto efetivamente em meia hora.
O porto é enorme, mas felizmente os "flying dolphins" (barcos menores
e mais rápidos que os ferries, acho que a tradução é "catamarã")
ficam perto da entrada. Foi uma corrida curta para o balcão de bilhetes, pegar
o meu comprado online (tinha isso ainda), e mais outra para chegar ao barco,
cinco minutos antes da partida. Só então pude relaxar e curtir o rápido trecho
de quarenta minutos até a ilha.
Égina
Chegando
lá, logo encontrei a pousada, que era bem próxima do porto. Um estabelecimento
como o de York, pequeno, bem cuidado e confortável. O dono me recebeu muito
bem. Era um ex-engenheiro naval que amava o Brasil, pois havia conhecido muito do
litoral no início dos anos 80 (incluindo Floripa), e desde lá nunca tinha
voltado. Ficou me fazendo um monte de perguntas, sobre se era muito caro
comprar uma casa, se estava muito perigoso e etc. Também me deu todas as dicas
de onde comer, para onde ir, horários, etc.
Depois
de estabelecido, desci para perto do porto novamente, que é onde se concentra a
vida turística na pequena Égina. A ilha tem pouco mais de dez quilômetros de extensão
nos dois eixos e a maior concentração demográfica é mesmo na Cidade de Égina,
dominada por pousadas, tavernas e outras comodidades turísticas. Interessante
pensar que, mesmo tão pequena, a ilha já teve grande relevância no passado,
sendo uma rival de Atenas no início do período Clássico e, por uns breves anos,
foi a primeira capital do novo estado grego, quando a guerra pela independência
contra a Turquia estourou no século XIX.
Mas
meu interesso no momento era menos em história e mais em comida. Não tinha
comido realmente bem muitas vezes nessa viagem, fosse por preços (Copenhague!),
tempo entre passeios ou simples falta de interesse na culinária local (peixe com
batata, sério?). Então decidi enfiar o pé na jaca na Grécia, a começar, claro,
por uma excelente salada grega e polvo frito. Bem comido (ui!), já passavam das
onze, então voltei ao hotel rápido para dormir, pois tinha acordado seis da
manhã (embora com duas horas de diferença no fuso).
Levantei
às dez e pouco, pronto para fazer o passeio planejado do dia. Comi um
"brunch" (que frescura!) de leve e fui alugar uma bicicleta. Minha
idéia era atravessar a ilha no sentido oeste-leste, pela estrada que passava
entre os morros e tinha alguns pontos de interesse, até chegar no Templo de Alfaia.
Eram 16 quilômetros, relativamente sossegado, pois tinha o dia todo para isso.
Bem,
depois de cinco minutos com o caminho suave e constantemente subindo, pensei
que ia morrer antes de chegar. Com meu fitness de jogador de computador e uma
bicicleta nada adequada ao meu tamanho, estava complicado, então comecei a
intercalar longas subidas a pé com curtas e gloriosas descidas sobre rodas.
Depois de mais vinte e cinco minutos, sob o sol a pino, tive a encantadora
visão da segunda maior igreja ortodoxa grega do mundo (após Hagia Sophia), a
Ágios Nectários, em meio aos morros. Encantadora nem tanto pela igreja em si,
que é uma construção da década de 90 que está cheia de andaimes no interior,
mas porque marcava metade do caminho.
Ao
lado da igreja, ficava uma coisa que realmente valeu o esforço e mais um tanto
de subida para visitar. A Palaiochóra ("cidade antiga") de Égina é o
local para onde as pessoas começaram a se estabelecer no século IX, devido aos
ataques de piratas nas partes mais baixas, e virou a capital da ilha. No século
XVI, sofreu um pesado ataque turco e foi sendo abandonada nos séculos
seguintes. O que sobra hoje em dia são algumas casas e igrejas abandonadas nos
morros, que podem ser alcançadas por trilhas estreitas de pedra ou barro. É o
tipo de coisa que faz minha cabeça, ainda mais considerando que eu era o único
disposto (ou louco) o bastante para explorar a área sob o pesado sol da uma da
tarde. Depois de tudo isso, Deus recompensou minha devoção com uma fonte de
água fresca na entrada de um monastério próximo, pois a minha garrafinha já
tinha se esgotado há tempos. A água saía tão fresca que foi até possível usá-la
para devolver meu Snickers a algo próximo do estado sólido.
Depois
desse ponto, fiquei feliz da vida, pois o caminho virava praticamente só
descida e área plana. Isso até uns dois quilômetros do templo, quando começou
uma subida de matar. Lá fui eu arrastando a bike, buscando agradar agora aos
deuses gregos, que adoram colocar suas casas nos lugares mais altos. Cheguei
depois de mais meia hora a partir de Palaiochóra e pude visitar o sítio de um
dos mais bem preservados templos gregos. O que não significa ter um teto,
claro, mas a maioria das colunas e boa parte das paredes de pé. Se achava
anteriormente que o templo era dedicado a Atena, mas foi descoberta uma
inscrição votiva a Alfaia, uma divindade grega que (para variar) Zeus deu um
pega, e decidiu vir para Égina depois disso. Foi um lugar muito legal de
conhecer, um sítio interessante em um cenário maravilhoso. Não precisava ter
deixado metade do meu dedão em uma pedra nos primeiros passos, mas tudo bem.
Parei
um tempo para almoçar um sorvete no boteco ao lado do sítio (valeu pelo Band
Aid, tia!) e comecei a volta. Descer a morreba antes do templo foi lindo, e
depois comecei o sobe-empurra. Tudo ia muito bem até que, em uma troca de
marchas, a corrente da bicicleta escapou e travou nas engrenagens de um modo
impossível de tirar sem ferramentas. Talvez tenha sido Deus novamente, agora
brabo pela minha visita aos colegas pagãos, pois isso ocorreu bem na frente de
Ágio Nectários. Na verdade, tive sorte no meu azar, pois, inversamente à ida, o
caminho dali até a Cidade de Égina foi praticamente todo descida, então só subi
na bicicleta e deixei a gravidade fazer seu trabalho.
Apesar
dos detalhes, foi um passeio de cinco horas muito gostoso. Durante as subidas,
por diversas vezes pensei que podia ter trazido a carteira de motorista para
alugar um quadriciclo. Mas, por outro lado, penar na bicicleta dá aquela
sensação de realização quando você chega, afinal (e custa só cinco euros!).
Feliz, voltei à pousada, tomei banho, desci para comer a única refeição de
verdade do dia, e pude morgar no ar condicionado do quarto até dormir, uma da
manhã (ainda efeito da mudança de fuso). Antes disso, falei com o dono da
pousada para ficar mais um dia lá, pois tinha descoberto uma combinação de
barcos que me permitiria ir a Míconos quinta de manhã, em vez de ter que dormir
ao lado do porto na quarta feira.
Sossegado
e com mais um dia inteiro por Égina, levantei depois das onze. Almocei um
fast-food grego (espetinhos de carneiro!) e fui para o sítio arqueológico da
própria cidade antiga de Égina, ao lado do porto. Ali, um pequeno museu
explicando o desenvolvimento do sítio desde a Idade do Bronze, e o sítio em si.
Dentre as ruínas escavadas, remanescentes tanto dos períodos mais antigos
(terceiro milênio a.C.) quanto dos mais recentes (romanos e bizantinos), com
destaque para o templo de Apolo do período Clássico (do qual só uma coluna
solitária permanece de pé).
Fiquei
no sítio até a hora de fechar, às três (lembram que os gregos não são de
trabalhar muito, né?). Dali, fui novamente ao cara das bicicletas, dessa vez
para percorrer a ilha no eixo norte-sul, por uma estrada que vai margeando a
costa. Se no dia anterior tinha ocorrido um acidente infeliz, dessa vez a
bicicleta era ruim mesmo, e, das seis marchas, duas não funcionavam. Bem, o que
eu poderia esperar por apenas cinco euros? Pelo menos era boa para o meu
tamanho, e o caminho era predominantemente plano. Entre paradas para fotos e
para colocar a corrente no lugar, levei uma hora até Pérdika, o vilarejo na
ponta da ilha. Pausa para ver o mar tomando uma cerveja, e retorno à Cidade de
Égina. Terminei o dia com mais uma janta arregada (incluindo um molho de ovas
de ouriço-do-mar que, embora gostoso, gerou uns efeitos colaterais no dia
seguinte) e fui dormir.
Na
quinta, comecei o dia com o pesadelo de acordar seis e pouco da manhã, para
pegar o primeiro barco para o porto de Atenas, sete horas. Nenhum percalço ou
atraso, então cheguei bem na hora, sete e quarenta, com tempo de sobra para
caminhar até o enorme ferry que saía para Míconos, oito e cinco. Bem
estabelecido dentro dele, foi só sentar e deixar passarem as cinco horas de
viagem até o último destino da viagem.
Míconos
Ao
chegar em Míconos, já pude experimentar o atendimento diferenciado aos turistas de lá. A dona da minha pousada estava esperando na saída do barco, para me levar
até Platis Yalos, a praia onde ficaria. Também, por noventa euros a diária,
tinha mais é que me levar e fazer o almoço ainda! O lugar não era a beira-mar,
mas muito próximo da praia, e bastante confortável, como todos os lugares pelos
quais já passei nas ilhas gregas. Eles chamavam de "studio", mas era
basicamente uma quitinete. Se pensar bem, o preço elevado era só para mim, pois
nenhum lugar que vi em Míconos fazia preço diferenciado para viajantes
individuais, todos os preços eram para duas pessoas. Noventa euros por um bom
lugar para duas pessoas na ilha mais pop da Grécia durante a temporada não é um
absurdo (Copenhague, Londres, estou olhando para vocês!).
E
Míconos é sim, definitivamente, a ilha mais pop da Grécia. Não há nada lá além
de turismo (nem cursos d'água naturais, por exemplo). As pessoas procuram a ilha basicamente pelas praias e pela vida
noturna baladeira, então o que não falta é a "galerinha descolada".
Mesmo assim, ainda é um lugar aprazível para famílias ou pessoas com espírito
geriátrico como eu, pois há espaço para todos e nada fica extremamente lotado.
As praias são pequenas em tamanho, e
muitas são completamente ocupadas por cadeiras e guarda-sóis para alugar dos
restaurantes e hotéis adjacentes. Mas ainda é possível encontrar prainhas
menores com areia de sobra para as pessoas se estirarem ao sol. A fama do
nudismo lá é verdadeira, mas, garotos, não se iludam: vocês verão muito mais
bundas masculinas viradas para cima do que moças se mostrando. Não fui,
efetivamente, para as praias superpop de nudismo (Paradise e Super Paradise),
mas em todo lugar tem um ou outro sem roupa, de todas as formas e idades.
Como
meu objetivo principal era menos prosaico que praia e pele, e tendo madrugado,
fui dormir cedo na quinta. Acordei às sete, para fazer um café rápido e pegar o
ônibus para a Cidade de Míconos (como o usual na Grécia, a principal vila da
ilha recebe o nome dela). Ali, foi evidente o que a dona da pousada tinha
me falado antes, que "ninguém acorda cedo aqui", pois caminhei um
pouco pelo lugar até as nove horas e tinha raríssimas almas vivas se movendo no
meio das ruelas. Uma vendinha ali, um tiozinho lavando a calçada aqui, um grupo
de turistas da terceira idade lá... Foi bom para tirar algumas fotos de cartões
postais da cidade sem uma pessoa pelo caminho.
Mas
não tinha acordado cedo para acompanhar os velhinhos, e sim para pegar o
primeiro barco rumo ao principal motivo da minha estada ali: a ilhota-santuário
de Delos, vizinha de Míconos. Tinha que fazer o tempo render, pois o tempo no
sítio é limitado (para quem gosta dessas coisas), já que o último barco voltava às
14:00. Após meia hora de navegação, desembarcamos em um dos sítios
arqueológicos mais importantes da Grécia.
Delos
não tem nada. Nunca teve. A ilha é pequena, árida e sem espaço para cultivo.
Assim, é estranho pensar em como virou um santuário grego de importância
panhelênica durante a época Arcaica e Clássica, nos mesmos moldes que uma
Olímpia ou Delfos. Alguns de vocês devem se lembrar, das aulas de História da
escola, da "Liga de Delos", o nome dado à aliança forjada e liderada
por Atenas após as guerras persas, no século V a.C.. A importância do local é
mais antiga, entretanto, sendo centro de culto desde o milênio anterior, e
citada na mitologia grega como local de nascimento de Apolo e Artemis, duas das
divindades mais populares da Grécia Antiga. Curiosamente, na época Helenística
e Romana, a importância do local se manteve, mas de uma forma bem diferente:
virou o principal centro de comércio daquela parte do Mediterrâneo, com os
ricos comerciantes construindo casas e monumentos nos intervalos entre os
negócios. Mesmo em termos contemporâneos é difícil de acreditar que aquele
pedacinho de terra, com uns cinco quilômetros quadrados, chegou a ter trinta
mil habitantes nesse período (sem produção própria alguma).
Há
sítios que são importantes historicamente, mas nada impressionantes atualmente.
Não é o caso de Delos. Graças ao fato da ilha não ter nada, sobreviveu
relativamente intacta aos milênios, e hoje o visitante pode caminhar em meio a
um conjunto impressionante de ruínas. Há restos de templos, dos quais só
restaram as fundações e ocasionais colunas. Há quarteirões inteiros de casas
anônimas, no qual é possível perder-se e explorar à vontade. Há casas
relativamente intactas, nas quais os mosaicos mitológicos do chão podem ser
vistos in situ (neste caso, logicamente, com cordinhas protetoras). Há
remanescentes que nada mais são do que uma pilha de pedras atualmente, mas
continuam evocando sentimentos diferentes ao você pensar que aquele ponto no
alto do morro, de onde você tem uma vista fantástica, era o Santuário de Zeus e
Atenas.
Delos
é um dos sítios mais legais que já visitei. Mesmo depois que outros barcos
chegam trazendo seu carregamento de visitantes, o tamanho do lugar impede
qualquer amontoamento, e a caminhada em meio às ruínas é quieta e tranquila.
Ficam dois pontos negativos. Um é o pequeno museu, que segue o que parece ser o
padrão dos museus das ilhas gregas: pouca organização e pouca informação sobre
as poucas peças expostas. O segundo é a falta de informações no próprio sítio.
As ruínas mais importantes estão bem sinalizadas e com cartazes explicativos, e
você ganha um folder com algumas indicações. Mas é fácil se perder na maior
parte do local, e não ter idéia se o que você está olhando é o Santuário de
Hércules ou só mais algumas pedras caídas (ou, pior, se é o Templo de Serápis
A, B ou C!). Talvez seja ação da Máfia dos Guias, que pulam nos turistas logo
na saída do barco. Uma possibilidade é comprar um livreto com maiores
indicações e saber mais sobre cada lugar. Mas, mesmo do modo como fiz, as
quatro horas lá foram pouco e nem pude alcançar alguns lugares mais afastados.
Ficava ali fácil mais duas horas. Deu até vontade de voltar outro dia, mas fica
para uma próxima viagem.
Tendo
cumprido meu único verdadeiro "compromisso" em Míconos e sem pressa
alguma, voltei à Platis Yalos, para almoçar. Comi bem demais nesses dias lá,
porções deliciosas de frutos do mar e as substanciosas saladas gregas. Os
preços são mais altos que nas outras ilhas, claro, mas ainda é possível comer
muito bem por 15-20 euros (fora a cerveja), ao menos ali onde eu estava. Não
gastei tanto também porque, além do café da manhã, uma refeição por dia fazia
no studio mesmo, mais por preguiça de sair do que por falta de grana. Sim,
cruzei o oceano para comer ovo frito em Míconos. Mas tava gostoso, ok??
Por
aquele dia foi só. Para compensar a acordada cedo, entrei no espírito de
Míconos e estiquei a preguiça até onze no dia seguinte. Fiz tudo em marcha
lenta: tomei café, fiquei morgando no ar condicionado/internet, e às três saí
para caminhar pelas redondezas. Através de um caminho no costão, fui passando
por pequenas prainhas até chegar em um pontal rochoso que se projetava uns
duzentos metros mar adentro, onde deu para ter uma vista legal dos arredores.
Claro que, em Míconos, isso significa também ter a vista de um velhinho pelado
tomando banho nas pedras, mas tudo bem.
Na
volta, parei em uma praia mais sossegada para tomar um banho de mar e ficar
rolando no sol. As praias gregas são piores que as do Brasil no sentido de que
o substrato é de areia muito grossa ou pedras. Por outro lado, são calmas,
pouco frias e com uma transparência fenomenal. Pena que só lembrei tarde demais
de comprar um óculos de mergulho, pois dá para ver bastante sob a água. De
volta ao studio perto das sete, tomei banho e saí para jantar. Foi um dia
literalmente de férias.
Domingo,
o último dia, não foi muito diferente. Acordei mais cedo (às dez!) e fui para a
Cidade de Míconos, dar uma passeada efetiva por lá. O Museu Arqueológico é
aquela coisa que disse antes, mas este realmente se destacou no quesito
"falta de informação". Mais interessante foi uma mostra que estava
ocorrendo em um espaço no porto, com reconstruções de invenções do período
helenístico grego. Impressionante ver a criatividade dos figuras para criar,
sem nenhum combustível além da gravidade e força hidráulica, relógios,
máquinas, calculadoras, armamentos, autômatos humanos (!) e mini-teatros
capazes de reproduzir uma peça inteira apenas com o puxão de uma corda.
Gastei
mais algum tempo caminhando pela vila em si, que é no mínimo interessante. Não
pelas lojas de badulaques para turistas, que permeiam cada esquina, mas pelo
próprio labirinto de casas brancas e ruelas estreitas (só para pedestres, pois
nem cabe um carro ali). É muito fácil de perder ali no meio, e dei algumas
voltas a mais antes de achar a estação de ônibus. Como os preços dali são mais
inflacionados, fui almoçar em Platis Yalos mesmo. Terminei às quatro, e deixei
a comida baixar no studio até cinco e meia, quando fui para a praia novamente.
Após uma hora lá, voltei para arrumar as malas, terminar as comidas que tinha
comprado, e enrolar até a hora de dormir.
Na
segunda, foi só acordar, tomar café e ganhar outra carona até o aeroporto. Não
foi a primeira vez que me incomodei com a confusão que é a Star Alliance, na
qual você compra passagem por uma empresa, mas tem que fazer check-in por
outra, mas que não faz check-in para todos os trechos, e também não mostra o
assento que tu reservou com bastante antecedência no vôo intercontinental, e no
fim não te dá o bilhete para esse vôo (mas sim para aquele que não dava para
fazer check-in!), e você tem que resolver só no outro aeroporto onde tem um
balcão da empresa que tu comprou a passagem. Não dá para negar a conveniência
de poder ir a qualquer destino com as parcerias e de ganhar as milhas, mas toda
vez que tenho que lidar com coisas da Star Alliance dá algum rolo.
Míconos
e Égina não pode ser mais diferentes uma da outra, mas ambos foram lugares que
valeu bastante ter ido. Égina é menos badalada, de fácil acesso, visitada
principalmente por gregos. Pequena, fácil de circular e com um número bem
razoável de coisas históricas para ver, considerando seu tamanho, sua beleza
está na sua naturalidade. Míconos é o oposto: super famosa, lotada de
estrangeiros, montada para atrair e capturar turistas. Fora Delos, um sítio
obrigatório para todos os interessados no assunto, não parece dar grande valor
à sua história, e as outras pequenas coisas que lá existem (sítios micênicos,
prehistóricos, medievais) não ganham muita atenção. É um destino para quem quer
mesmo aproveitar as praias, o clima mediterrâneo e as comodidades turísticas
(ou para pirar nas baladas, claro).
Nos
dois casos, essa última semana na Grécia foi como eu tinha planejado: com
bastante tempo para ver relativamente pouca coisa. Afinal, viajar e conhecer
mil coisas é bom. Mas simplesmente tirar férias também, e é o que fiz nesses
últimos dias. O diferencial lá, e que continua me apaixonando na Grécia, é que
tudo pode ser encontrado no mesmo lugar. Diversão, paisagens, relaxamento,
história. Você vai na praia, curtir a água transparente e o clima
quente-mas-não-muito, mas logo ali, acima das pedras do costão, tem uma
acrópole com cinco mil anos de história. E, nas ilhas pequenas, como essas,
tudo fácil de acessar. A única coisa que me arrependi um pouco foi de não ter
trazido minha carteira de motorista. Não posso dirigir moto e carro sozinho é
muito caro, mas nessas ilhas está cheio de quadriciclos alugar. Míconos tem um
sistema de ônibus razoável e Égina permite passear de bicicleta, mas um veículo
motorizado para explorar todos os cantos das ilhas nesses dias teria sido
legal. Nada que diminua o quão bom foi esse final de viagem por lá.
Epílogo
E eis que
termina essa minha sequência de viagens européias. Finalizo tendo visitado as
principais capitais que são ricas em coisas que gosto. Com poucas exceções, já
vi os principais zoológicos, museus de arqueologia e história natural do continente, e tenho um currículo de sítios de fazer inveja a muito
arqueólogo. Além disso, conheci com mais profundidade alguns países (Alemanha,
Grécia e Turquia). Ainda existe uma imensidão de coisas para ver lá. Não fui
para a Península Ibérica nem para a Escandinávia, embora não sejam lugares que
me atraiam particularmente. Ainda estou devendo uma pernada no leste europeu,
com suas antigas e cênicas capitais. Quero muito fazer passeios mais longos por
França e Itália, pois só conheci as capitais. E, na própria Grécia, ainda não
conheci a parte continental, além de existirem várias ilhas que ainda valem uma
visita.
Mas
agora é hora de mudar de ares um pouco. Tem bastante coisa no mundo para
conhecer, paisagens, culturas e sítios diferentes para ver. É bom dar um tempo
das mesmas coisas, para no futuro voltar e ver uma nova igreja ou peça de museu
como algo mais que só mais uma igreja ou peça de museu. Em alguns momentos
nessa viagem achei que estava vendo mais do mesmo, mas também tive muitas
experiências novas ou que superaram as passadas. Isso é natural, qualquer
pessoa mais viajada fica mais crítica, comparando o que está vendo com o que já
viu. Então, Europa, tivemos uma excelente sequência juntos, mas agora vou atrás
de novos horizontes. Com certeza voltarei, só não sei se daqui a um ou cinco
anos (dez é demais!). E, de qualquer forma, já venderam todos os ingressos para
o próximo Wacken, então nem rola mesmo!
Resumo do resumo
Melhor momento: meu perdão à
História, mas sem chuva não tem para ninguém. Wacken bicampeão!
Outros momentos de destaque:
British Museum, York, Glendalough, Égina, Delos.
Menos melhor momento: Dublin. Mas
acho que foi mais por estar cansado que pela cidade mesmo.
Lugares para voltar logo: tá, eu
vou falar Grécia e Wacken de novo, cadê a criatividade?
Lugares para não voltar tão cedo:
estou de boa de todos os lugares nos quais fiquei mais tempo desta vez. A
Dinamarca não tem coisas a mais além do que já vi que valham a exploração. Tive
bastante tempo em Londres, mas o resto da Grã-Bretanha é outra história. E
teria que pesquisar mais a fundo para achar coisas que façam valer a pena
voltar à Irlanda.
A conta: não sei, não quero saber
e tenho raiva de quem sabe. Só sei que ficou bem mais caro que nos anos
anteriores, mas não tenho idéia de quanto.