sábado, 29 de março de 2008

Poetry and beer...

A cerveja é o alento da poesia... Ela acaba com qualquer padrão e critério, e fica tão fácil cuspir palavras no papel. Nada precisa fazer muito sentido. E no fim sempre dá pra lapidar melhor o delírio depois... :)

Uma poesia??

Depois de muito tempo, desde o agora longínquo Congresso de Eco, eis que surge uma poesia... Daquelas escritas de supetão, no morrer da noite, almágama de desatinos e invenções...

LXLVI. Retorno
29/03/08, 4:40

O bom e velho retorno solitário
Velho caminho a um novo Santuário
Novamente a solidão, passos dentre a vastidão
Onde devaneios e delírios levam à nova ação

No caminhar os pensamentos, tão tristes alentos
Para sonhos só sonhados, oníricos eventos
A mente paira insana, sobre um mundo a sentir
Ruínas e relíquias de um ato a nunca vir

Na noite o Caminhante Solitário admira as estrelas
Em sua eterna busca, suas mais fiéis companheiras
Ele pensa e titubeia, se no sonho insistir
Ou render-se à realidade, esquecer-se e sorrir

(um carro passa ao lado
um insulto inesperado
o Caminhante nem se importa
com tal mente suja e morta...)

Em meio ao passo ele recorda
De como ela atinge suas notas
Um sorriso para cada riso
Sua companhia, seu motivo

Em meio à treva ele se indaga
Por que ante ela sua voz trava
Tanta panacéia quando não há mágoa
Mas naquele então ele se aquieta e cala

Tão simples lhe parece no retorno solitário
Como seria fácil fazer tudo ao contrário
Então ele sorri, ante sua própria mente insana
Seria tão difícil dizer-lhe o quanto ele a ama?

Tão palpável, noite fria, Deus e Diabo já sabiam
Confessar-lhe a ousadia, como numa poesia
Mas o ar já não se move, a musa já dormia
Quando o Caminhante se consola, dentre sua ironia...

(Um terreno lodoso onde é arriscado pisar
Um jogo de sutilezas onde é perigoso tentar
Nenhum lado se rende, ninguém vai admitir
Outra noite se esgota, às paixões só resta dormir...)

quarta-feira, 26 de março de 2008

Vida diária?

Novas reflexões sobre vida e morte - 26/03/08


Ontem foi meu aniversário. Há exatos cinco anos, no mesmo dia 26 de março, inspirado pelo espírito de "um ano a menos de vida, um ano a mais de morte", eu sentei diante do computador para escrever "Morte Diária". Era um conto filosófico. Conto no sentido de que propunha e descrevia o desenrolar de uma situação: um cara sentado diante do PC, sentindo uma amargura imensa e precisando descarregá-la em forma de escrita. E filosófico no sentido de ter sido uma síntese das reflexões sobre o sentido da vida e da morte que vinham se acumulando no ano anterior. As conclusões filosóficas eram claras: pressupondo-se que a morte é o fim absoluto e definitivo da vida, esta não tinha "sentido", tanto menos a morte. Não havia porque viver, ou morrer, pois todas as realizações e pensamentos de uma pessoa se encerram com sua morte, e esta pode ser atingida a qualquer momento, sem permitir qualquer segunda chance ou arrependimento. Permanecer no primeiro estado era uma simples questão de inércia, enquanto pular para o outro, uma simples questão de escolha. Tais pensamentos se tornaram um dos guias de um sistema filosófico pessoal, sempre como uma sombra cobrindo qualquer outra atitude, escolha ou objetivo.

Semana passada, segunda feira. Um dia nada especial. Na hora do almoço, um estalo do nada. Não, não um fabuloso insight obscuro, uma revelação inesperada que fez uma luz do céu cair diretamente sobre minha cabeça, acompanhada de um coro celestial. Sabem quando há tempos parece que algum pensamento está se formando na nossa cabeça, e de repente ele simplesmente aparece em toda sua obviedade? Ele já está ali, mas por mil motivos a cabeça permanece nos velhos conceitos, até que *puf*, tudo muda.

O estalo foi simples e está aí, para quem quiser ver, notadamente na literatura científica. Tem como pressuposto admitir que a vida é um processo físico-químico que gerou um sistema que chamamos de "orgânico". E assim como os sistemas físico químicos evoluíram (no sentido de "mudaram com o tempo", nenhuma conotação de "melhoramento" aí) para gerar este sistema orgânico, o próprio evoluiu, mudou, diversificou-se, gerando uma miríade de variantes ao longo de bilhões de anos (entre 3,5 e 3,8, pelas estimativas atuais) que agora chamamos de "formas de vida" ou "espécies". Eventualmente, este processo gerou pelo caminho aquilo que chamamos de "mente", a capacidade de pensamento abstrato que, em uma determinada espécie de primatas, se desenvolveu de forma incomparável em relação às outras.

Admitimos, dentro da ciência, que o universo segue determinadas "regras", "princípios" ou "leis", que simplesmente fazem as coisas funcionar como funcionam, sem ter qualquer vínculo com aquilo que podemos chamar de "sentido" ou "objetivo". Faz sentido (perdão pelo trocadilho) pensar no "sentido" das leis da física? Qual o sentido da gravidade? Das forças fundamentais da física, da interação entre partículas, átomos, moléculas? As "regras" estão aí, gerando interações, processos, cujo resultado final nada mais é que o produto de tais interações e regras. Por que o céu é azul? Porque é a cor azul que tem o comprimento de onda que mais facilmente se dispersa na atmosfera. Se não fosse assim, ele poderia ser amarelo. Por que as coisas na Terra caem no chão? Porque corpos de grande massa atraem objetos para seu centro. Se não fosse assim, elas poderiam flutuar, como gatos com uma fatia de pão com manteiga nas costas.

Além das regras, existe na evolução dos sistemas o que chamamos de contingência. São coisas que não podem ser previstas, pois não são resultados óbvios e únicos das interações, mas coisas que poderiam ser de muitas formas. Por exemplo, um objeto derrubado vai cair no chão, é o resultado natural da interação do objeto com a gravidade. Mas por que temos cinco dedos? A resposta não poderia ser outra: porque não temos seis. Ou quatro. O peixe que deu origem aos animais terrestres tinha cinco raios ósseos em suas nadadeiras, que deram origem às mãos com cinco dedos dos animais (há mudanças posteriores, mas nosso estado "original" é da mão com cinco dedos). Se houvesse dez raios? Dez dedos, provavelmente. Isso mudaria o processo posterior? Certamente, e o resultado final poderia ser tanto um mundo exatamente igual ao nosso, mas onde eu estaria digitando com o dobro da velocidade, quanto algo radicalmente diferente (se não se formasse um polegar opositor nos primatas, por exemplo - tente executar algumas tarefas cotidianas sem um sar o dedão para ver...). Assim, muitas coisas dentro da evolução dos sistemas orgânicos poderiam ser explicadas desta maneira: são assim porque não são de outro modo. Não porque são "melhores" ou porque daquele jeito atingiriam um "objetivo" mais facilmente.

Aí vem o insight, possivelmente já bem óbvio para todos: a vida é um processo como qualquer outro, com bases físico-químicas. Sendo assim, é independente de qualquer pensamento humano sobre ela. Grosseiramente, podemos resumir este processo como um jogo entre replicação do sistema (reprodução) e sua evolução (as mudanças que surgem com o passar do tempo). A reprodução é uma propriedade básica dos sistemas orgânicos: uma cadeia de ácidos nucléicos (que formam nosso DNA e RNA) irá se replicar se o ambiente fornecer condições para isso, seja num tubo de ensaio ou numa espécie de pássaro. A vida não "precisa" de nada que nós, humanos, conceituamos como "sentido". Agora entendo melhor uma idéia que li no "Poema Imperfeito", do Fernando Fernandéz, há algum tempo: o "porquê" da vida é o "como" da vida. Não nos preocupamos em dar algum "sentido" à gravidade. O melhor modo de entender este processo é ver como ele ocorre, e não por que ele ocorre. A mesma coisa ocorre com a vida.

Meio anti-climáxico, não? Também achei, na verdade. Tanto tempo imerso na beleza do tormento humano diante de uma vida sem sentido, só para concluir que: sim, ela não tem sentido, mas isso é a coisa mais natural do mundo. Ficar indignado diante da vida sem sentido é igual a ficar puto com céu azul, por que se preferiria ele verde. Ou dizer "droga, como posso seguir sendo feliz num mundo onde as coisas caem no chão?!?!". Não parece uma revolta muito útil, hein?

E a mente humana na história? Este processo independente que é a vida gerou algo capaz de perguntar a si mesmo o porque de tudo isso. E é aí que vemos onde está o sentido da vida: simplesmente nas nossas cabeças. Tanto os "sentidos" convencionais (religiosos, místicos, filosóficos) quanto a própria falta de sentido são produtos do nosso pensamento abstrato, nosso raciocínio. Não refletem alguma grande verdade universal, uma lei equiparável às outras, que diga "a vida tem o objetivo X, esta aí para isto". E seguimos vivendo, nos reproduzindo e evoluindo, independente do que pensemos a respeito. É fácil verificar que nossa mente é apenas uma parte (uma das principais, é claro) do nosso organismo. Todas nossas atividades fisiológicas seguem funcionando quando dormimos, ou mesmo quando o cérebro vai pro espaço (pacientes com morte cerebral podem seguir respirando e batendo o coração por muito tempo, se continuarem sendo nutridos). E concluir "a vida não tem sentido!" não faz parar imediatamente nosso metabolismo. Nosso corpo segue funcionando independente do que queira a rebelde porção de nosso cérebro responsável pelo pensamento.

Mas é interessante pensarmos como a capacidade de raciocínio extremamente desenvolvida em nós consegue influenciar no processo. Por exemplo, a taxa de suicídios deve ser maior nos humanos que em qualquer outra espécie próxima. Mesmo a vida sendo aquele processo natural e sem sentido, podemos raciocinar que a morte não é tão assustadora e dar fim à nossa existência quando bem entendermos (mais ou menos - o medo diante da morte, mesmo por opção própria, é certamente um dispositivo do sistema orgânico para sua preservação).

Conclusões de tudo isso? A vida é bela e vamos ser todos felizes, em contrapartida com as conclusões negras e insípidas de "Morte Diária"? Neca. Desvinculada de conceitos humanos, a "beleza" e "alegria" da vida, assim com sua "frieza" e "falta de sentido", também estão só em nossas cabeças. Ainda são coisas que nos encantam na literatura, na produção intelectual e emocional derivada do pensamento abstrato humano. Por outro lado, muitas das conclusões originais das reflexões sobre vida e morte seguem valendo. O suicídio ainda é uma saída fácil para a vida. Um corpo morto ainda é apenas um amontoado de matéria orgânica, não mais a pessoa querida de antes. O que esta nova reflexão me leva a concluir é que não há porque ficar pensando no sentido da vida, nem se deve pensar que existe um e já se achou. A partir de agora, vou olhar para a vida assim como olho para o lento caminhar do sol pelo céu: se me deixa feliz porque é um dia lindo, ou triste porque não estou na praia, não importa. Ele vai seguir andando, indiferente a qualquer um de nós. Resgatando pensamentos de Stephen Jay Gould, no último parágrafo de seu "Vida Maravilhosa", talvez este seja o mais interessante dos universos concebíveis: um mundo indiferente a nossos pensamentos, onde podemos ser felizes ou tristes, não por conta de algum princípio universal maior, mas segundo nossas próprias escolhas.

quinta-feira, 20 de março de 2008

Equinócio e Homem-Azul-Agora

Estarei em Blumenau no feriado. Páscoa, chocolate, procurar cestinha do coelho (velhas tradições familiares nunca morrem), carteado (velhas tradições nerds idem) e afins. E as passagens de ônibus não param de aumentar...

Em homenagem ao equinócio da madrugada de hoje, uma reedição. Escrita na "borda", com muita história dali em diante...

LXXXV. Equinócio
Ciclo dos Tormentos - 25/09/06

A luz... A luz que outrora brilhava, desvanece
O calor, que antes acalentava, já não mais me aquece
Tudo se dissipa, tudo se apaga, tudo vira pó e nada
Com lentidão morosa, a vida presente se torna passada

Fim da linha, quem diria?
Bem, eu, como todos, já sabia
Uma ascensão para cada queda, um verão para cada inverno
Não há sentido - não há existência - para um Éden sem Averno

A queda, tão confortável, suave descida ao abismo
Pois no fundo não há retorno, só o vagar a esmo
Mas a beirada - ah, a borda é tão assustadora!
O limite para glória passada, não mais redentora

Saudades, ah, saudosismo!
Conversas alegres entre amigos
Onde o riso é semeado pela memória de tempos idos
E mascara o medo de horizontes de tais alegrias desprovidos

Meus amigos, meus queridos...
Em breve, corações partidos...
Não mais pessoas, não mais ilhas a serem desbravadas
Não, só serão múmias estáticas, para sempre preservadas

Pois estes tempos, e todos os tempos, são o aqui e agora
Não há mais show, não há mais jogo, quando passa sua hora
Não, o teatro vivo cessa, sobram só suas fotografias
Nas margens da estrada, camas quentes em estalagens frias

Ah, meu amor! Meu divino, verdadeiro e inatingível amor!
Já não mais me aquecerá, já não mais refulgirá em alegria e dor
Minha querida e amada, a mais ardente lembrança cultivada!
O altar sagrado numa catedral de memórias idolatradas

Passou-se o apogeu...
(e ninguém se apercebeu)
O ápice foi cruzado...
(num arrastão desgovernado)
Agora a vida é queda...
(agora a vida é treva)
Até sua final solução...
(quem sabe por sua própria mão)

...adeus, doce verão...
...venha, entre, amargo inverno...
... com lembranças crepitando na danação...
... a labareda débil em meu suave inferno...

segunda-feira, 17 de março de 2008

Documentos e documentos...

Artigos. Livros. Declarações. Conferências. Estocolmo. Belgrado. Tbilisi. Rio de Janeiro. Etc., etc.

Já devem ter dito que revisar bibliografia é ler para falar o que já se sabe, mas mostrando que alguém já falou.

Avisos aos navegantes: as coisas estão mais ou menos encaminhadas por aqui. Aulas de Ecologia de Comunidades um dia por semana. Aikidô dois dias por semana (a começar semana que vem). Algumas atividades "sérias" paralelas. Uma boa quantidade de festas. Ida a BH planejada. A dissertação está andando, embora eu ainda esteja meio lerdo.

Mas posso estar sendo um pouco exigente comigo mesmo. Eu sei que dou conta das coisas, geralmente muito bem, mesmo com a insistente tendência a deixar para a última hora. Sempre poderia fazer mais, claro. Poderia ser "o" biólogo, se estivesse com todo meu empenho focado nisso. Mas nunca fui de me focar completamente em uma coisa só. Por isso vou ser um biólogo "legalzinho". Assim como um escritor "legalzinho", um músico "legalzinho", um jogador "legalzinho" e etc.

O que você prefere? Ser de tudo um pouco, ou tudo em um pouco? Saber tudo de nada, ou nada de tudo? Dedicar-se profundamente a uma coisa no presente, para no futuro distante quem sabe poder fazer outras coisas? Ou jogar com o presente e um futuro a curto/médio prazo? Valorizar as obrigações acima das escolhas, pensando que mais tarde terá tempo para estas? Ou considerar lazer e trabalho com o mesmo peso, e equilibrar sobrevivência com vivência?

Escolhas e mais escolhas, hein? C'est la vie. Ê, laia...

quarta-feira, 12 de março de 2008

The Fucking Hotspots!!!

Vejam isso...

Yes, man... We are... We just are....

(formatura da Biologia, 01/03/08)

terça-feira, 11 de março de 2008

Novidades

Agora tenho internet!

E TV a cabo! (= peso morto)

E um telefone rosa...

Que, por sinal, é 32092213.

Quem tem telefone da Net, sinta-se à vontade para ligar pra mim. Sim, todas as duas pessoas que conheço que devem tâ-lo. Diz a lenda que é de graça.

Mais notícias em breve, estou na corrida agora!

segunda-feira, 3 de março de 2008

Primeiros passos numa nova vida velha

Casa montada, enfim. Falta só a internet, que chega nos próximos dois dias. Parece que vão rolar coisas interessantes por aqui nesses tempos. Sim, coisas "sérias" também, não estou falando só de lazer. Convenhamos, profissionalmente é bom estar num lugar onde se é conhecido e se conhece bastante gente...

Mas em alguns lugares, nuvens se fecham e tempestades se formam. E, como o usual, eu me preocupo mais do que deveria. Eu sinceramente acho que eu deveria me importar menos com os outros, com o que vão pensar de mim, com as mil coisas que podem acontecer mas certamente não irão. Não é irônico? Eu realmente acho que seria melhor ser mais individualista, conforme o meu discurso prega. Talvez apenas tão individualista quanto as pessoas que afirmam não ser. Enfim, não é a toa que tenho insônia crônica...

Mas agora, com uma cortina de verdade, tudo está resolvido!