terça-feira, 17 de junho de 2008

De banhos, carros e carnes

(Esse não é um artigo elaborado, foi um texto de supetão que acabou crescendo. Pretendo melhorá-lo posteriormente)

Uma pequena brincadeira com números, por conta do inverno e seus (ou melhor, meus) banhos demorados. Nenhuma fonte bibliográfica complexa aqui, apenas dados de internet, então todos os valores podem estar errados. Mas os erros apenas deverão alterar os resultados um pouco para mais, um pouco para menos. A lógica permanecerá a mesma.

Um banho de 30 minutos (como os meus no inverno) consome cerca de 270 litros de água (possivelmente calculados a partir de uma ducha decente).

Uma pessoa normal, digamos que tome banhos de 10 minutos no inverno. Isso dá um terço do meu, ou seja, 90 litros. Ficam 180 litros de diferença.

Uma camisa de algodão, em todo seu processo de manufatura, consome 2,7 mil litros de água. Não achei dados para um casaco, mas levando em conta que o peso em algodão é pelo menos o dobro, com o dobro de fibras para ser corada e trabalhada, chuto que a quantidade de água também deva dobrar. Vamos deixar em 5 mil litros, para arredondar. E vamos deixar uma calça aproximadamente pela mesma conta.

Eu compro poucas roupas. Neste inverno, não comprei nenhuma além das que já tinha. Digamos que eu economizei dois casacos e uma calça, em relação à maioria das pessoas (aquelas que tomam banhos de 10 minutos). Isso me dá um "crédito" de 15 mil litros. Vocês podem argumentar que calças e casacos são bens duráveis, então teoricamente valeriam para muitos anos. Sim, com certeza. Mas acredito que dois casacos e uma calça seja uma estimativa razoável de quantas roupas de inverno as pessoas comprar POR ANO.

15 mil litros dividido pelos 180 litros de diferença entre cada banho de 30 e de 10 minutos = 83 banhos. Praticamente o sufuciente para os três meses de inverno. Sem contar a lavação das roupas, mas acredito que seja uma quantidade pouco expressiva.

Querem brincar mais um pouco com números da água? A quantidade de água recomendada para beber num dia varia bastante, mas geralmente entre 2 e 4 litros. Vamos ficar com a estimativa máxima, 4 litros.

Com um banho de 10 minutos a menos no mês, você economiza 90 litros de água. Isso equivale à água bebida de 22,5 dias.

Com uma camisa comprada a menos por ano, você economiza 2,7 mil litros de água. Isso equivale à água bebida de 675 dias. Em 365 dias, você teria 7,4 litros de água por dia.

Então, se você deixar de tomar um banho por mês, tem praticamente toda sua água do mês inteiro para beber. E se comprar uma camisa a menos no ano, pode beber água à vontade naquele ano. Dá até para beber 4 litros por dia e tomar 7 banhos de 20 minutos adicionais ao longo do ano! ***

Moral da história

Qual a lógica de estar falando tudo isso? Bem, há duas coisas importantes que podemos extrair dessa brincadeira.

Primeiro: o mundo não vai acabar por falta de água. A água é necessária para praticamente tudo o que fazemos, mas o que menos consome de tudo isso é exatamente o único imprescindível: beber. Mesmo se agora baixassem uma lei dizendo que cada habitante da Terra tem direito a consumir apenas uma quantidade X de água, ninguém precisaria se preocupar em passar sede. Pequenos ajustes aqui e ali permitiriam a todos ainda encher a cara de água à vontade.

Segundo, e o mais sério: percebemos como as atitudes "ecológicas" ambientalistas mais "pop" são as menos significantes. todo mundo vai sempre dizer em tudo quanto é canto que para salvar o mundo, você deve fechar torneiras, tomar banhos rápidos e apagar as luzes. E, cada um fazendo sua parte, as coisas poderão melhorar.

Só um probleminha: a "parte" de cada um. O foco está em coisas que sim, fazem diferença (qualquer diminuição de uso faz alguma diferença, mesmo que medíocre). O problema é que são diferenças muito pequenas diante de algumas coisas que não percebemos. O consumo é a maior delas. A maioria do público tem visão estreita, se vê uma camisa, não pensa no recurso "água" ou "energia". Talvez pense em "área de plantação de algodão", mas não chegará no "matas derrubadas para plantar". Nas discussões, percebe-se como o impacto do uso de um carro é traduzido em valores com consumo de gasolina, barulho, espaço físico em avenidas... Mas o próprio custo de produção e manutenção, em recursos basais como água e energia, é ignorado (mais números não-confiáveis de internet - a produção de 1 litros de gasolina consome 2,5 de água). Os vegetarianos há um tempão berram que um bife consome uma tonelada de água (literalmente) e, embora se baseiem também em números de internet, como eu, também sua lógica não deixa de estar certa.

As atitudes que mais impactam o ambiente não são percebidas, não são divulgadas, não são "pop". Tudo porque levam a consequências não-"pop": se quer economizar recursos, diminua consumo. Diminua a produção (uma camisa é um nada em água perto de um computador, por exemplo, e não é incomum uma pessoa trocar de computador num período mais curto do que usará uma camisa). Compre menos, produza menos. Quem quer ouvir isso hoje em dia? Mesmo porque diminuir o consumo e a produção leva a menos empregos. Qual a solução? Menos gente para precisar de emprego. Menos crescimento populacional. Menos filhos, já que mais mortes é o que ninguém quer.

Mas isso que é o importante. Cada biólogo, ecólogo, ou ambientalista, vai te dar uma lista imensa de problemas no mundo. Alguns dirão que a genialidade humana vai vencer tudo. Outros falam que, se não voltarmos à idade média, nosso destino estará selado. Eu vejo todos, e digo de boca cheia, todos os problemas relacionados com uma mera variável: crescimento populacional.

Mas, assim como o custo em água de uma camisa, o crescimento populacional não é "pop". Suas soluções incomodam até quem demoniza o aquecimento global (que já virou "pop"). O movimento ambientalista está em grande parte cego, apostando nas coisas erradas, perdido em radicalismos sem sentido ou utopias desenvolvimentistas. Tem pouca gente que sabe falando, mas muita gente ouvindo e achando que sabe. Mas não é difícil: vamos pensar em todas as variáveis. Expandir as mentes. Tomar atitudes mais consistentes. Senão, o "mundo" (leia-se: "o esquema geral atual de organização social humana", não mais que isso) não tem salvação.

Se acho que conseguiremos?

É claro que não.

Afinal, eu ainda como carne e tomo banhos de 30 minutos.


*** Existe uma infinidade de custos agregados a cada uma das atividades citadas, e todas podem ser convertidas em água, ou melhor, em energia. O chuveiro, todo mundo sabe, consome energia pra caramba, o que pode resultar em mais hidroelétricas ou mais rios poluídos por outras usinas de energia. Mas as roupas também consomem energia, assim como o tratamento de água para beber. Como isso aqui é apenas um exemplo tosco para embasar uma discussão, vamos ficar apenas na variável "água".

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Resenhas do dia - filmes em cartaz

Em primeiro, hoje passou o trailler do Arquivo X II. Dá para ficar morrendo de expectativa... e medo. Vamos ver no que vai dar. Em segundo...

Fim dos Tempos (filme - 2008)

Poucos são os diretores que me fazem querer ver um filme só por conta do seu nome. George Romero, Stanley Kubrick, talvez mais um ou outro... e M. Night Shyamalan. O cara me arrebatou (assim como a meio mundo) com "O Sexto Sentido", seguiu firme com "Corpo Fechado" e ganhou o jogo de vez com "Sinais". Depois vieram "A Vila" que, embora bom, não foi aquilo tudo, e "A Dama da Água", capaz de agradar só aqueles que adoram uma boa história fantástica mesmo (onde me encaixo - mas confesso que não estava prestando muita atenção no filme quando vi...). E agora, esse "Fim dos Tempos" (título cortesia dos nossos admiráveis tradutores nacionais para o original 'The Happening" - algo como "O Acontecimento").

O estilo do diretor está intacto. Um filme relativamente "parado", alguns momentos de ação mais desenfreada, nada mais. A tensão predomina sobre o esporro. As tomadas de câmera não usuais ou estáticas também estão ali, e também o típico e abominável uso da câmera lenta nas partes emotivas.

O filme começa com tudo, tensão lá em cima. Depois dá uma acalmada e demora um pouco para retornar ao rumo. A história é bem imaginativa, mas é muito fácil sacar tudo logo de início (pelo menos eu saquei, e não foi difícil). E possui frases e idéias capazes de criar caretas em qualquer biólogo / cientista (e não estou falando da parte "ficção científica", essa é primorosa). Os personagens são estranhos (a "mocinha" é muuito estranha), fazem e falam coisas estranhas, tudo para deixar o espectador o menos confortável o possível com os seus supostos "heróis" ou "vilões". Essa é uma característica dos filmes de Shyamalan que curto muito.

O "durante" do filme é legal. Porém, o final é muito ruim. Tem quem não gostou do final de "Sinais" porque "o monstro aparecia". Eu achei excelente: já era cliché não se mostrar NADA no final. Mas o final deste "Fim dos Tempos" é muito cliché (não, nada a ver com o caso do "Sinais", pode deixar). O diretor teve tudo na mão para criar um final ótimo, e em vez disso fez o filme acabar insosso (se você ainda não viu o filme, não leia "o final que deveria ser", após a nota).

Então, esse é o novo filme. Não é o melhor da carreira do cara. Talvez seja o pior. O que não quer dizer que seja ruim. Como eu falei, o "durante" é excelente. Mas perde alguns pontos por causa do final.

NOTA: 7,0.

(pare de olhar!)

O FINAL QUE DEVERIA SER: seria tão fácil acabar o filme na hora em que o "mocinho" sai da casa para encontrar a "mocinha" no meio da ventania, os dois andarem até um ao outro, toda aquela emoção... e então simplesmente pararem, como todas as pessoas afetadas. Pronto, fecha a cena, créditos. Em vez disso, temos um final feliz e, o cúmulo dos cúmulos dos clichés, aquela cena final que diz "hohoho, ainda não acabou!"...

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Resenhas do dia - filmes em cartaz

Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal (filme - 2008)

Os rumores de um quarto filme da série vinham de anos, e eu sempre brincava: "vão fazer com o Harrison Ford de bengala". Afinal, o cara já não era muito novo na época dos originais (já era quarentão na época da Ultima Cruzada). Eis que o rumor toma forma e o filma aparece. Como o usual, há um misto de empolgação com cautela: sempre é bom ver nossos personagens favoritos de volta (e Indiana sempre esteve entre meus primeiros), mas será que teremos algo mais que um caça-níqueis se valendo de glórias do passado?

Bem, posso dizer que, neste caso, felizmente não. O filme evita um tom saudosista, de "grand finale", e não depende de referências a aventuras passadas para cativar o espectador. Na verdade, isso nunca aconteceu nas aventuras de Jones, elas sempre foram relativamente independentes umas das outras. Imagine tentar se basear nisso 17 anos depois do último filme... Alguns personagens retornam, há algumas referências aqui e ali, mas nada que vá deixar algum alienado que nunca viu um filme da série viajando. Tampouco abrir aquele sorriso de familiaridade nos rostos de fãs da série.

Primeiro de tudo, o que mais interessa: o personagem principal. Sim, temos quase o mesmo Dr. Jones de sempre. Harisson Ford está muito bem para sua idade. As piadas do personagem e do enredo às vezes não são tão fluidas quanto antes, mas ainda divertem bastante. O resto dos personagens faz o seu papel de sempre, caricatos e previsíveis em seus papéis. Sim, eles sempre foram assim, e não é agora que Spielberg e Lucas iriam mudar as coisas. O único destaque negativo vai para Mac, o companheiro de Jones no início do filme, que apresenta mais reviravoltas do que o aceitável.

Bem, a trama. Esta é como nos outros filmes da série: uma sequência infindável de elementos, lugares, viajens, referências mitológicas, etc. Alguém que não curte muito a coisa vai ficar perdido. Ou bocejar nos momentos em que há mais falação do que ação. Que bocejem, eu adoro tais momentos. Mesmo porque geralmente eles contêm elementos de tensão, quando os diálogos ocorrem numa cripta escura atulhada de esqueletos que a qualquer momento podem sair passeando. Os lugares são tudo aquilo que esperávamos: cavernas, criptas, florestas, templos, etc. São paisagens mais espetaculares que as dos filmes anteriores, mas hoje em dia computação gráfica demais cansa. Hoje em dia é mais fácil fazer um macaco ou roedor computadorizado do que filmar um treinado, e os filmes perdem muito com isso, na minha opinião.

Por fim, a ação. Temos novamente as cenas longas e recheadas de piadas, além dos momentos desnecessários que qualquer filme de ação / aventura contém. Nada fora do usual. Uma diferença é que a evolução dos efeitos especiais permite que os personagens façam coisas realmente absurdas, em contraste ao heroísmo mais comedido dos tempos passados. Alguns momentos são destaque negativo, como o personagem Mutt e os macacos da floresta. Você pode pensar "pai do céu, uma fria atrás da outra!" ou "ei, é uma aventura, vamos nos divertir!". Neste caso, assumi a segunda, embora me incomode um pouco com a primeira.

Um comentário extra sobre a história: ela lida com elementos já utilizados na mitologia do personagem. Quem já jogou o excelente adventure "Indiana Jones and the Fate of Atlantis" vai saber do que estou falando. Infelizmente, por ser um jogo, e não um dos filmes, Lucas e Spielberg decidiram não fazer nenhuma relação ou referência à história de "Atlantis". Por sinal, é uma das melhores do personagem, vale a pena até para quem não tem paciência jogar com uma folhinha de soluções, só para curtir a aventura.

Finalizando: não, não é nada genial. E deve ser o último mesmo. Não contém nenhuma reviravolta inesperada, nenhum final surpreendente. É apenas mais do mesmo, com um pouco menos de inspiração na parte intelectual e mais elaboração na visual. Vá sem medo, embora sem esperar muito. No mínimo, atiça muito a vontade de alugar a trilogia original e fazer uma Sessão Indiana em casa.

NOTA: 8,5.