sábado, 8 de novembro de 2008

O mapa do metal

Não foi revisado, tampouco uma brincadeira tão bem explorada como poderia ser. Mas é que chegou a hora do almoço... ;)

De onde vem o metal? Para os pseudo-nacionalistas musicais, parece tudo "coisa de gringo" (no caso, se referindo aos estadunidenses). Afinal, a grande maioria canta em inglês, e tem muitos que parecem esquecer que o próprio inglês, como o nome diz, não é estadunidense. Por outro lado, eu sempre afirmei que os EUA eram muito fracos em matéria de metal e que de lá quase só vinha as "modinhas", como o Nu (ou "No") metal (com uma honrosa exceção). Para tirar a dúvida, decidi checar minha coleção para ver o que os frios e cruéis dados me mostravam.

Para isso, chequei a origem de todas as bandas de metal das quais tenho ao menos um cd. O número de cds por banda não foi considerado, então a discografia completa do Black Sabbath pesa o mesmo que aquele único cd do Anasarca que eu só ouvi uma vez (as três primeiras músicas). Foram incluídas as bandas que estão nos "limites" do metal e que alguns poderiam questionar a inclusão, como Rammstein e Motorhead. Demos (perdão, bandas de amigos!) e músicas avulsas não foram consideradas, apenas álbuns completos e EPS.

Logicamente, há grandes problemas nessa amostragem: ela reflete parcialmente meu gosto pessoal por determinados sub-gêneros e, como veremos adiante, o país de origem tem grande influência no subgênero. Mas, com eu tenho uma tendência a ir atrás de várias bandas mais comentadas apenas para conhecer, esse erro é um pouco diluído. O dia em que eu publicar na Science, me preocupo mais com isso. Digo "parcialmente" pois tenho uma grande quantidade de discos de bandas dos estilos tradicionais estadunidenses, pega de um amigo, mas que ouço muito pouco.

De um total de 377 discos, obtivemos 122 bandas, divididas entre:

1º - Estados Unidos (22 bandas)
2º - Suécia e Inglaterra (18 bandas)
4º - Noruega (17 bandas)
5º - Finlândia (11 bandas)
6º - Alemanha (10 bandas)
7º - Brasil (5 bandas)
8º - Itália (4 bandas)
9º - Dinamarca e Áustria (3 bandas)
11º - Holanda, Israel e Suíça (2 bandas)
14º - Grécia, Portugal, Austrália, Rússia (1 banda)

O que vemos é que os Estados Unidos é o país com maior número de bandas. Tal resultado não é tão surpreendente, levanto em conta o tamanho e a população dos EUA. Proporcionalmente, a Inglaterra e os países escandinavos apresentam uma concentração maior de bandas. Em matéria de continentes, a Europa domina, com 74% das bandas. Nos outros quatro continentes, apenas um país possui bandas: EUA na América do Norte, Brasil na América do Sul, Austrália na Oceania, Israel na Ásia (há a Rússia, que poderia contar para a Ásia e Europa) . Os africanos sofrem pela falta de energia elétrica para plugar as guitarras, continuando apenas com tambores.

Há uma clara concentração local de sub-gêneros. Os EUA despontam como pólo do trash (a honrosa exceção) e do "metalcore" (a modinha do momento). A Inglaterra possui muitas das bandas clássicas do heavy "propriamente dito". A Suécia é forte no death metal, particularmente a vertente melódica. A Noruega apresenta uma tendência ao black metal, também com grandes expoentes do gothic. A Finlândia apresenta diversas bandas de folk, que usam elementos da música tradicional do país. Se eu ouvisse mais metal melódico, é provável que a Alemanha estivesse melhor representada.

Eu esperava uma quantidade menor de bandas americanas, mas acabou que os EUA foram o país mais representado. Como citei antes, parte disso se refere aos discos dos sub-gêneros típicos do país (em particular o tal do "metalcore"). Por outro lado, talvez seja o país que apresenta maior diversidade de bandas, tendo representantes de vários gêneros, como death, prog, melódico e black.

O uso da língua inglesa transcende a influência atual dos EUA. Esse uso parece mais ligado ao uso dela como "língua universal". Efetivamente, muitas bandas que cantam em inglês não chegam a atingir o mercado estadunidense. Mas, afora aquelas que usam a língua nativa ocasionalmente em algumas músicas, há diversas bandas que cantam predominantemente em sua língua, particularmente da Alemanha e da Escandinávia.

Sem dúvida, o metal é um estilo dos países do hemisfério norte. É um típico fenômeno da sociedade desenvolvida ocidental. Realmente, se sabe que o único pólo significativo do metal fora do primeiro mundo é o Brasil. E, mesmo assim, as bandas nacionais são mais bem conhecidas lá fora do que no próprio país, como o Angra, o Krisium, o Sepultura e diversas outras. As explicações para isso podem ser sociais, econômicas, históricas e até biológicas (há quem cite a influência do clima frio e dos longos invernos na tendência escandinava para os sub-gêneros mais melancólicos, obscuros e extremos do metal).

De qualquer modo, o que dá para concluir é que um dos benefícios da ágil troca de informações de um mundo globalizado é ter contato com produtos culturais (de lixos a luxos) de sociedades completamente distintas da sua própria. Alguns podem condenar isso como perda de identidade cultural. Eu já penso que é um modo de assimilar diversos traços culturais em uma personalidade própria. E, felizmente, não precisar depender de pagode, axé e funk para satisfazer as necessidades musicais...

3 comentários:

Rodrigo Oliveira disse...

mto massa. eu provavelmente não teria tanta paciência, mas a iniciativa foi mto legal (ainda q evidentemente parcial). o lance do clima eu achei interessante e até já tinha discutido isso com alguém. E o lance da Africa levou uma lebre interessante. Obviamente deve ter alguma coisa por lá, afinal um continente tão grande e (mesmo com a pobreza e ferrado pelo resto do mundo) num mundo globalizado, deve ter algum expoente, nem q seja menor. E algo me diz q os dialetos locais podem ficar especialmente interessantes e deve criar uma musicalidade nova.

Félix disse...

deve haver bandas de metal na áfrica, é claro (esses dias eu vi o clipe de uma de taiwan*, então deve ter em qualquer lugar!). mas não existe nenhum nome com alguma exposição. é uma pena pois, como tu disse, se eles incorporassem as sonoridades e dialetos locais no som, resultaria em uma combinação muito interessante. um folk metal egípcio ou tribal me parece muito atraente.

* chinês tocando black metal sinfônico é no mínimo engraçado

Anônimo disse...

Ei rapaz,

BH inteira está preocupada contigo. Notícias terríveis chegando aí do sul. Vc está bem? Dê notícias. Ou volte pra BH, que o sol aqui está ótimo!