quarta-feira, 28 de agosto de 2013

And the story ends...

               E eis que estou de volta, dos trinta e cinco graus da Grécia para os dez de Floripa. Voltar para o frio e trabalho é meio deprê, mas também tem bastante coisas boas, principalmente reencontrar as pessoas e dormir na própria cama. Mas vamos logo ao resumo desta última semana, além das conclusões finais desta viagem.
               A nova jornada grega começou com o único estresse verdadeiro desta viagem. Meu vôo de Dublin ia para Londres, e dali pegaria outro para chegar às seis em Atenas, e dali eu teria duas horas para atravessar de um lado a outro da região metropolitana e pegar o último barco do dia para Égina. Se pegasse as malas rápido, daria para pegar o trem das 18:33. De outra forma, teria que abrir o bolso e pegar um taxi. Mas tempo tinha de sobra, bastava o vôo não atrasar.
               Na verdade, ele podia até atrasar. Quinze minutos. Meia hora. Quarenta e cinco minutos. Só não dava pata atrasar UMA HORA E VINTE, como aconteceu. E não foi por algum imprevisto muito acidental, pois quando cheguei em Londres, dez da manhã, já indicava lá que atrasaria todo esse tempo. Passei as próximas horas fazendo cálculos mentais e cada vez mais vendo que não iria rolar. A internet gratuita do aeroporto não funcionava e a amada British Airways nem me deixou entrar na sala vip para minimamente compensar o seu vacilo. O jeito foi pagar por alguns minutos de internet, para avisar o dono do hotel em Égina que eu talvez não chegasse a tempo, e fazer uma reserva às pressas em outro hotel na beira do porto. Teria que dormir por ali mesmo e ir para Égina na quarta de manhã, ficando sem um dia inteiro sossegado para a ilha (já que, no plano inicial, voltaria na quinta de noite).
               Se eu chegasse em Atenas em um horário que sem dúvida impossibilitasse a chegada, teria parado de me preocupar. Mas o vôo chegou exatamente às sete. Então a passagem pela capital começou da mesma maneira que terminou a última: correndo. Fui apressado para a esteira da bagagem, e foram torturantes minutos até ela aparecer. Nova corrida para sair do aeroporto, mas, como os ingleses são chatos e paranóicos, cheguei em um terminal que me obrigava a passar novamente pelo controle de passaporte. Ali, dei a furada de fila mais linda desse mundo, e logo estava liberado para chegar nos táxis. Era sete e vinte. Perguntei para o taxista quanto era e quanto demorava. Cinquenta euros e mais ou menos meia hora. Esse "mais ou menos" me deixou de cabelo em pé, pois não tinha tempo para "mais". Imagina gastar essa grana e no fim não chegar a tempo. Falei que tinha que estar lá em menos de meia hora, e o taxista (que não falava inglês) fez uma cara de "é, talvez". Toquei aquele foda-se e pulei no carro.
               E, também como ano passado, no fim deu tudo certo. O taxista tocou o pé fundo pelas rodovias da Grande Atenas, e cheguei no porto efetivamente em meia hora. O porto é enorme, mas felizmente os "flying dolphins" (barcos menores e mais rápidos que os ferries, acho que a tradução é "catamarã") ficam perto da entrada. Foi uma corrida curta para o balcão de bilhetes, pegar o meu comprado online (tinha isso ainda), e mais outra para chegar ao barco, cinco minutos antes da partida. Só então pude relaxar e curtir o rápido trecho de quarenta minutos até a ilha.


Égina

               Chegando lá, logo encontrei a pousada, que era bem próxima do porto. Um estabelecimento como o de York, pequeno, bem cuidado e confortável. O dono me recebeu muito bem. Era um ex-engenheiro naval que amava o Brasil, pois havia conhecido muito do litoral no início dos anos 80 (incluindo Floripa), e desde lá nunca tinha voltado. Ficou me fazendo um monte de perguntas, sobre se era muito caro comprar uma casa, se estava muito perigoso e etc. Também me deu todas as dicas de onde comer, para onde ir, horários, etc.
               Depois de estabelecido, desci para perto do porto novamente, que é onde se concentra a vida turística na pequena Égina. A ilha tem pouco mais de dez quilômetros de extensão nos dois eixos e a maior concentração demográfica é mesmo na Cidade de Égina, dominada por pousadas, tavernas e outras comodidades turísticas. Interessante pensar que, mesmo tão pequena, a ilha já teve grande relevância no passado, sendo uma rival de Atenas no início do período Clássico e, por uns breves anos, foi a primeira capital do novo estado grego, quando a guerra pela independência contra a Turquia estourou no século XIX.
               Mas meu interesso no momento era menos em história e mais em comida. Não tinha comido realmente bem muitas vezes nessa viagem, fosse por preços (Copenhague!), tempo entre passeios ou simples falta de interesse na culinária local (peixe com batata, sério?). Então decidi enfiar o pé na jaca na Grécia, a começar, claro, por uma excelente salada grega e polvo frito. Bem comido (ui!), já passavam das onze, então voltei ao hotel rápido para dormir, pois tinha acordado seis da manhã (embora com duas horas de diferença no fuso).
               Levantei às dez e pouco, pronto para fazer o passeio planejado do dia. Comi um "brunch" (que frescura!) de leve e fui alugar uma bicicleta. Minha idéia era atravessar a ilha no sentido oeste-leste, pela estrada que passava entre os morros e tinha alguns pontos de interesse, até chegar no Templo de Alfaia. Eram 16 quilômetros, relativamente sossegado, pois tinha o dia todo para isso.
               Bem, depois de cinco minutos com o caminho suave e constantemente subindo, pensei que ia morrer antes de chegar. Com meu fitness de jogador de computador e uma bicicleta nada adequada ao meu tamanho, estava complicado, então comecei a intercalar longas subidas a pé com curtas e gloriosas descidas sobre rodas. Depois de mais vinte e cinco minutos, sob o sol a pino, tive a encantadora visão da segunda maior igreja ortodoxa grega do mundo (após Hagia Sophia), a Ágios Nectários, em meio aos morros. Encantadora nem tanto pela igreja em si, que é uma construção da década de 90 que está cheia de andaimes no interior, mas porque marcava metade do caminho.
               Ao lado da igreja, ficava uma coisa que realmente valeu o esforço e mais um tanto de subida para visitar. A Palaiochóra ("cidade antiga") de Égina é o local para onde as pessoas começaram a se estabelecer no século IX, devido aos ataques de piratas nas partes mais baixas, e virou a capital da ilha. No século XVI, sofreu um pesado ataque turco e foi sendo abandonada nos séculos seguintes. O que sobra hoje em dia são algumas casas e igrejas abandonadas nos morros, que podem ser alcançadas por trilhas estreitas de pedra ou barro. É o tipo de coisa que faz minha cabeça, ainda mais considerando que eu era o único disposto (ou louco) o bastante para explorar a área sob o pesado sol da uma da tarde. Depois de tudo isso, Deus recompensou minha devoção com uma fonte de água fresca na entrada de um monastério próximo, pois a minha garrafinha já tinha se esgotado há tempos. A água saía tão fresca que foi até possível usá-la para devolver meu Snickers a algo próximo do estado sólido.
               Depois desse ponto, fiquei feliz da vida, pois o caminho virava praticamente só descida e área plana. Isso até uns dois quilômetros do templo, quando começou uma subida de matar. Lá fui eu arrastando a bike, buscando agradar agora aos deuses gregos, que adoram colocar suas casas nos lugares mais altos. Cheguei depois de mais meia hora a partir de Palaiochóra e pude visitar o sítio de um dos mais bem preservados templos gregos. O que não significa ter um teto, claro, mas a maioria das colunas e boa parte das paredes de pé. Se achava anteriormente que o templo era dedicado a Atena, mas foi descoberta uma inscrição votiva a Alfaia, uma divindade grega que (para variar) Zeus deu um pega, e decidiu vir para Égina depois disso. Foi um lugar muito legal de conhecer, um sítio interessante em um cenário maravilhoso. Não precisava ter deixado metade do meu dedão em uma pedra nos primeiros passos, mas tudo bem.
               Parei um tempo para almoçar um sorvete no boteco ao lado do sítio (valeu pelo Band Aid, tia!) e comecei a volta. Descer a morreba antes do templo foi lindo, e depois comecei o sobe-empurra. Tudo ia muito bem até que, em uma troca de marchas, a corrente da bicicleta escapou e travou nas engrenagens de um modo impossível de tirar sem ferramentas. Talvez tenha sido Deus novamente, agora brabo pela minha visita aos colegas pagãos, pois isso ocorreu bem na frente de Ágio Nectários. Na verdade, tive sorte no meu azar, pois, inversamente à ida, o caminho dali até a Cidade de Égina foi praticamente todo descida, então só subi na bicicleta e deixei a gravidade fazer seu trabalho.
               Apesar dos detalhes, foi um passeio de cinco horas muito gostoso. Durante as subidas, por diversas vezes pensei que podia ter trazido a carteira de motorista para alugar um quadriciclo. Mas, por outro lado, penar na bicicleta dá aquela sensação de realização quando você chega, afinal (e custa só cinco euros!). Feliz, voltei à pousada, tomei banho, desci para comer a única refeição de verdade do dia, e pude morgar no ar condicionado do quarto até dormir, uma da manhã (ainda efeito da mudança de fuso). Antes disso, falei com o dono da pousada para ficar mais um dia lá, pois tinha descoberto uma combinação de barcos que me permitiria ir a Míconos quinta de manhã, em vez de ter que dormir ao lado do porto na quarta feira.
               Sossegado e com mais um dia inteiro por Égina, levantei depois das onze. Almocei um fast-food grego (espetinhos de carneiro!) e fui para o sítio arqueológico da própria cidade antiga de Égina, ao lado do porto. Ali, um pequeno museu explicando o desenvolvimento do sítio desde a Idade do Bronze, e o sítio em si. Dentre as ruínas escavadas, remanescentes tanto dos períodos mais antigos (terceiro milênio a.C.) quanto dos mais recentes (romanos e bizantinos), com destaque para o templo de Apolo do período Clássico (do qual só uma coluna solitária permanece de pé).
               Fiquei no sítio até a hora de fechar, às três (lembram que os gregos não são de trabalhar muito, né?). Dali, fui novamente ao cara das bicicletas, dessa vez para percorrer a ilha no eixo norte-sul, por uma estrada que vai margeando a costa. Se no dia anterior tinha ocorrido um acidente infeliz, dessa vez a bicicleta era ruim mesmo, e, das seis marchas, duas não funcionavam. Bem, o que eu poderia esperar por apenas cinco euros? Pelo menos era boa para o meu tamanho, e o caminho era predominantemente plano. Entre paradas para fotos e para colocar a corrente no lugar, levei uma hora até Pérdika, o vilarejo na ponta da ilha. Pausa para ver o mar tomando uma cerveja, e retorno à Cidade de Égina. Terminei o dia com mais uma janta arregada (incluindo um molho de ovas de ouriço-do-mar que, embora gostoso, gerou uns efeitos colaterais no dia seguinte) e fui dormir.
               Na quinta, comecei o dia com o pesadelo de acordar seis e pouco da manhã, para pegar o primeiro barco para o porto de Atenas, sete horas. Nenhum percalço ou atraso, então cheguei bem na hora, sete e quarenta, com tempo de sobra para caminhar até o enorme ferry que saía para Míconos, oito e cinco. Bem estabelecido dentro dele, foi só sentar e deixar passarem as cinco horas de viagem até o último destino da viagem.


Míconos
  
             Ao chegar em Míconos, já pude experimentar o atendimento diferenciado aos turistas de lá. A dona da minha pousada estava esperando na saída do barco, para me levar até Platis Yalos, a praia onde ficaria. Também, por noventa euros a diária, tinha mais é que me levar e fazer o almoço ainda! O lugar não era a beira-mar, mas muito próximo da praia, e bastante confortável, como todos os lugares pelos quais já passei nas ilhas gregas. Eles chamavam de "studio", mas era basicamente uma quitinete. Se pensar bem, o preço elevado era só para mim, pois nenhum lugar que vi em Míconos fazia preço diferenciado para viajantes individuais, todos os preços eram para duas pessoas. Noventa euros por um bom lugar para duas pessoas na ilha mais pop da Grécia durante a temporada não é um absurdo (Copenhague, Londres, estou olhando para vocês!).
               E Míconos é sim, definitivamente, a ilha mais pop da Grécia. Não há nada lá além de turismo (nem cursos d'água naturais, por exemplo). As pessoas procuram a ilha basicamente pelas praias e pela vida noturna baladeira, então o que não falta é a "galerinha descolada". Mesmo assim, ainda é um lugar aprazível para famílias ou pessoas com espírito geriátrico como eu, pois há espaço para todos e nada fica extremamente lotado. As  praias são pequenas em tamanho, e muitas são completamente ocupadas por cadeiras e guarda-sóis para alugar dos restaurantes e hotéis adjacentes. Mas ainda é possível encontrar prainhas menores com areia de sobra para as pessoas se estirarem ao sol. A fama do nudismo lá é verdadeira, mas, garotos, não se iludam: vocês verão muito mais bundas masculinas viradas para cima do que moças se mostrando. Não fui, efetivamente, para as praias superpop de nudismo (Paradise e Super Paradise), mas em todo lugar tem um ou outro sem roupa, de todas as formas e idades.
               Como meu objetivo principal era menos prosaico que praia e pele, e tendo madrugado, fui dormir cedo na quinta. Acordei às sete, para fazer um café rápido e pegar o ônibus para a Cidade de Míconos (como o usual na Grécia, a principal vila da ilha recebe o nome dela). Ali, foi evidente o que a dona da pousada tinha me falado antes, que "ninguém acorda cedo aqui", pois caminhei um pouco pelo lugar até as nove horas e tinha raríssimas almas vivas se movendo no meio das ruelas. Uma vendinha ali, um tiozinho lavando a calçada aqui, um grupo de turistas da terceira idade lá... Foi bom para tirar algumas fotos de cartões postais da cidade sem uma pessoa pelo caminho.
               Mas não tinha acordado cedo para acompanhar os velhinhos, e sim para pegar o primeiro barco rumo ao principal motivo da minha estada ali: a ilhota-santuário de Delos, vizinha de Míconos. Tinha que fazer o tempo render, pois o tempo no sítio é limitado (para quem gosta dessas coisas), já que o último barco voltava às 14:00. Após meia hora de navegação, desembarcamos em um dos sítios arqueológicos mais importantes da Grécia.
               Delos não tem nada. Nunca teve. A ilha é pequena, árida e sem espaço para cultivo. Assim, é estranho pensar em como virou um santuário grego de importância panhelênica durante a época Arcaica e Clássica, nos mesmos moldes que uma Olímpia ou Delfos. Alguns de vocês devem se lembrar, das aulas de História da escola, da "Liga de Delos", o nome dado à aliança forjada e liderada por Atenas após as guerras persas, no século V a.C.. A importância do local é mais antiga, entretanto, sendo centro de culto desde o milênio anterior, e citada na mitologia grega como local de nascimento de Apolo e Artemis, duas das divindades mais populares da Grécia Antiga. Curiosamente, na época Helenística e Romana, a importância do local se manteve, mas de uma forma bem diferente: virou o principal centro de comércio daquela parte do Mediterrâneo, com os ricos comerciantes construindo casas e monumentos nos intervalos entre os negócios. Mesmo em termos contemporâneos é difícil de acreditar que aquele pedacinho de terra, com uns cinco quilômetros quadrados, chegou a ter trinta mil habitantes nesse período (sem produção própria alguma).
               Há sítios que são importantes historicamente, mas nada impressionantes atualmente. Não é o caso de Delos. Graças ao fato da ilha não ter nada, sobreviveu relativamente intacta aos milênios, e hoje o visitante pode caminhar em meio a um conjunto impressionante de ruínas. Há restos de templos, dos quais só restaram as fundações e ocasionais colunas. Há quarteirões inteiros de casas anônimas, no qual é possível perder-se e explorar à vontade. Há casas relativamente intactas, nas quais os mosaicos mitológicos do chão podem ser vistos in situ (neste caso, logicamente, com cordinhas protetoras). Há remanescentes que nada mais são do que uma pilha de pedras atualmente, mas continuam evocando sentimentos diferentes ao você pensar que aquele ponto no alto do morro, de onde você tem uma vista fantástica, era o Santuário de Zeus e Atenas.
               Delos é um dos sítios mais legais que já visitei. Mesmo depois que outros barcos chegam trazendo seu carregamento de visitantes, o tamanho do lugar impede qualquer amontoamento, e a caminhada em meio às ruínas é quieta e tranquila. Ficam dois pontos negativos. Um é o pequeno museu, que segue o que parece ser o padrão dos museus das ilhas gregas: pouca organização e pouca informação sobre as poucas peças expostas. O segundo é a falta de informações no próprio sítio. As ruínas mais importantes estão bem sinalizadas e com cartazes explicativos, e você ganha um folder com algumas indicações. Mas é fácil se perder na maior parte do local, e não ter idéia se o que você está olhando é o Santuário de Hércules ou só mais algumas pedras caídas (ou, pior, se é o Templo de Serápis A, B ou C!). Talvez seja ação da Máfia dos Guias, que pulam nos turistas logo na saída do barco. Uma possibilidade é comprar um livreto com maiores indicações e saber mais sobre cada lugar. Mas, mesmo do modo como fiz, as quatro horas lá foram pouco e nem pude alcançar alguns lugares mais afastados. Ficava ali fácil mais duas horas. Deu até vontade de voltar outro dia, mas fica para uma próxima viagem.
               Tendo cumprido meu único verdadeiro "compromisso" em Míconos e sem pressa alguma, voltei à Platis Yalos, para almoçar. Comi bem demais nesses dias lá, porções deliciosas de frutos do mar e as substanciosas saladas gregas. Os preços são mais altos que nas outras ilhas, claro, mas ainda é possível comer muito bem por 15-20 euros (fora a cerveja), ao menos ali onde eu estava. Não gastei tanto também porque, além do café da manhã, uma refeição por dia fazia no studio mesmo, mais por preguiça de sair do que por falta de grana. Sim, cruzei o oceano para comer ovo frito em Míconos. Mas tava gostoso, ok??
               Por aquele dia foi só. Para compensar a acordada cedo, entrei no espírito de Míconos e estiquei a preguiça até onze no dia seguinte. Fiz tudo em marcha lenta: tomei café, fiquei morgando no ar condicionado/internet, e às três saí para caminhar pelas redondezas. Através de um caminho no costão, fui passando por pequenas prainhas até chegar em um pontal rochoso que se projetava uns duzentos metros mar adentro, onde deu para ter uma vista legal dos arredores. Claro que, em Míconos, isso significa também ter a vista de um velhinho pelado tomando banho nas pedras, mas tudo bem.
               Na volta, parei em uma praia mais sossegada para tomar um banho de mar e ficar rolando no sol. As praias gregas são piores que as do Brasil no sentido de que o substrato é de areia muito grossa ou pedras. Por outro lado, são calmas, pouco frias e com uma transparência fenomenal. Pena que só lembrei tarde demais de comprar um óculos de mergulho, pois dá para ver bastante sob a água. De volta ao studio perto das sete, tomei banho e saí para jantar. Foi um dia literalmente de férias.
               Domingo, o último dia, não foi muito diferente. Acordei mais cedo (às dez!) e fui para a Cidade de Míconos, dar uma passeada efetiva por lá. O Museu Arqueológico é aquela coisa que disse antes, mas este realmente se destacou no quesito "falta de informação". Mais interessante foi uma mostra que estava ocorrendo em um espaço no porto, com reconstruções de invenções do período helenístico grego. Impressionante ver a criatividade dos figuras para criar, sem nenhum combustível além da gravidade e força hidráulica, relógios, máquinas, calculadoras, armamentos, autômatos humanos (!) e mini-teatros capazes de reproduzir uma peça inteira apenas com o puxão de uma corda.
               Gastei mais algum tempo caminhando pela vila em si, que é no mínimo interessante. Não pelas lojas de badulaques para turistas, que permeiam cada esquina, mas pelo próprio labirinto de casas brancas e ruelas estreitas (só para pedestres, pois nem cabe um carro ali). É muito fácil de perder ali no meio, e dei algumas voltas a mais antes de achar a estação de ônibus. Como os preços dali são mais inflacionados, fui almoçar em Platis Yalos mesmo. Terminei às quatro, e deixei a comida baixar no studio até cinco e meia, quando fui para a praia novamente. Após uma hora lá, voltei para arrumar as malas, terminar as comidas que tinha comprado, e enrolar até a hora de dormir.
               Na segunda, foi só acordar, tomar café e ganhar outra carona até o aeroporto. Não foi a primeira vez que me incomodei com a confusão que é a Star Alliance, na qual você compra passagem por uma empresa, mas tem que fazer check-in por outra, mas que não faz check-in para todos os trechos, e também não mostra o assento que tu reservou com bastante antecedência no vôo intercontinental, e no fim não te dá o bilhete para esse vôo (mas sim para aquele que não dava para fazer check-in!), e você tem que resolver só no outro aeroporto onde tem um balcão da empresa que tu comprou a passagem. Não dá para negar a conveniência de poder ir a qualquer destino com as parcerias e de ganhar as milhas, mas toda vez que tenho que lidar com coisas da Star Alliance dá algum rolo.
               Míconos e Égina não pode ser mais diferentes uma da outra, mas ambos foram lugares que valeu bastante ter ido. Égina é menos badalada, de fácil acesso, visitada principalmente por gregos. Pequena, fácil de circular e com um número bem razoável de coisas históricas para ver, considerando seu tamanho, sua beleza está na sua naturalidade. Míconos é o oposto: super famosa, lotada de estrangeiros, montada para atrair e capturar turistas. Fora Delos, um sítio obrigatório para todos os interessados no assunto, não parece dar grande valor à sua história, e as outras pequenas coisas que lá existem (sítios micênicos, prehistóricos, medievais) não ganham muita atenção. É um destino para quem quer mesmo aproveitar as praias, o clima mediterrâneo e as comodidades turísticas (ou para pirar nas baladas, claro).
               Nos dois casos, essa última semana na Grécia foi como eu tinha planejado: com bastante tempo para ver relativamente pouca coisa. Afinal, viajar e conhecer mil coisas é bom. Mas simplesmente tirar férias também, e é o que fiz nesses últimos dias. O diferencial lá, e que continua me apaixonando na Grécia, é que tudo pode ser encontrado no mesmo lugar. Diversão, paisagens, relaxamento, história. Você vai na praia, curtir a água transparente e o clima quente-mas-não-muito, mas logo ali, acima das pedras do costão, tem uma acrópole com cinco mil anos de história. E, nas ilhas pequenas, como essas, tudo fácil de acessar. A única coisa que me arrependi um pouco foi de não ter trazido minha carteira de motorista. Não posso dirigir moto e carro sozinho é muito caro, mas nessas ilhas está cheio de quadriciclos alugar. Míconos tem um sistema de ônibus razoável e Égina permite passear de bicicleta, mas um veículo motorizado para explorar todos os cantos das ilhas nesses dias teria sido legal. Nada que diminua o quão bom foi esse final de viagem por lá.


Epílogo

              E eis que termina essa minha sequência de viagens européias. Finalizo tendo visitado as principais capitais que são ricas em coisas que gosto. Com poucas exceções, já vi os principais zoológicos, museus de arqueologia e história natural do continente, e tenho um currículo de sítios de fazer inveja a muito arqueólogo. Além disso, conheci com mais profundidade alguns países (Alemanha, Grécia e Turquia). Ainda existe uma imensidão de coisas para ver lá. Não fui para a Península Ibérica nem para a Escandinávia, embora não sejam lugares que me atraiam particularmente. Ainda estou devendo uma pernada no leste europeu, com suas antigas e cênicas capitais. Quero muito fazer passeios mais longos por França e Itália, pois só conheci as capitais. E, na própria Grécia, ainda não conheci a parte continental, além de existirem várias ilhas que ainda valem uma visita.
               Mas agora é hora de mudar de ares um pouco. Tem bastante coisa no mundo para conhecer, paisagens, culturas e sítios diferentes para ver. É bom dar um tempo das mesmas coisas, para no futuro voltar e ver uma nova igreja ou peça de museu como algo mais que só mais uma igreja ou peça de museu. Em alguns momentos nessa viagem achei que estava vendo mais do mesmo, mas também tive muitas experiências novas ou que superaram as passadas. Isso é natural, qualquer pessoa mais viajada fica mais crítica, comparando o que está vendo com o que já viu. Então, Europa, tivemos uma excelente sequência juntos, mas agora vou atrás de novos horizontes. Com certeza voltarei, só não sei se daqui a um ou cinco anos (dez é demais!). E, de qualquer forma, já venderam todos os ingressos para o próximo Wacken, então nem rola mesmo!


Resumo do resumo

Melhor momento: meu perdão à História, mas sem chuva não tem para ninguém. Wacken bicampeão!

Outros momentos de destaque: British Museum, York, Glendalough, Égina, Delos.

Menos melhor momento: Dublin. Mas acho que foi mais por estar cansado que pela cidade mesmo.

Lugares para voltar logo: tá, eu vou falar Grécia e Wacken de novo, cadê a criatividade?

Lugares para não voltar tão cedo: estou de boa de todos os lugares nos quais fiquei mais tempo desta vez. A Dinamarca não tem coisas a mais além do que já vi que valham a exploração. Tive bastante tempo em Londres, mas o resto da Grã-Bretanha é outra história. E teria que pesquisar mais a fundo para achar coisas que façam valer a pena voltar à Irlanda.

A conta: não sei, não quero saber e tenho raiva de quem sabe. Só sei que ficou bem mais caro que nos anos anteriores, mas não tenho idéia de quanto.

Palavra final: e que venha a América do Sul!

3 comentários:

Flight Reports disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Fabricio Baumgarten Cardoso disse...

Expedição Peru e Bolívia 2014?
Tenho planos...

sara mãe disse...

Acho que fugi das aulas de história, pois naõ sabia nada destas ilhas muito menos de seus deuses.
O que curti mesmo foi o resumão da viagem.'O Mário Quintana(poeta) diz que "viajar é trocar a roupa da alma"...você não vai querer mais parar de fazer isto!
Ainda há tanto a ver e viver neste planeta maravilhoso! Espero que agora possamos nos maravilhar juntos em alguns lugares. É bom compartilhar com pessoas que a gente ama!
Grata pela partilha de teus sonhos
Até a próxima
mãe