terça-feira, 20 de agosto de 2013

(Aw)full English breakfast

              Depois do primeiro (e espero que único) estresse da viagem, estou de volta ao verão mediterrâneo e feliz da vida! Mas, no momento, é hora de contar sobre a última semana lá no norte, a dois fusos horários de distância.

York
               Cheguei em York uma e meia da tarde e, depois de uma hora e com a ajuda dos prestativos motoristas de ônibus da cidade, estava no hotel. Na verdade, era um pequeno estabelecimento com oito quartos, muito confortável e cuidado com esmero pelo casal de donos. Como não tinha comido nada, larguei as coisas no quarto e caminhei menos de dez minutos até as muralhas históricas que delimitam o centro, em busca de comida e das primeiras visões da cidade.
               York era um posto avançado romano que depois virou vilarejo anglo-saxão, mas adquiriu real importância ao ser conquistada pelos vikings no século IX e virar seu principal bastião nas campanhas britânicas. No século XI, foi reconquistada pela realeza anglo-saxã, apenas algumas semanas antes destes mesmos serem conquistados pelos normados. A partir desse período, a importância e população do local cresceu e virou a segunda maior cidade da Inglaterra até o fim da Idade Média. Desde lá, os centros de poder se deslocaram novamente e York ficou meio de lado, podendo manter muito de sua estrutura medieval nos dias atuais.
               Claro que, depois de Rodes, meu conceito sobre cidades medievais preservadas é outro. Mas York também é muito interessante, me lembrando Lübeck. O centro é um labirinto de ruas estreitas e calçamentos de pedra. Em alguns pontos, como as Shambles, as próprias casas de madeira medievais estão preservadas e seus andares se assomam sobre a cabeça dos transeuntes, quase se tocando. Legal é que, fora algumas vias principais e veículos de carga/deficientes, carros não podem circular ali dentro, então há espaço de sobra para as pessoas caminharem sem se esbarrarem. Havia bastante turistas por lá, mas nada que realmente incomodasse nos locais de interesse, fora uma fila ou outra.
               Após um fast-food-fish-chips rápido, fui gastar o final da tarde no principal marco da cidade, a York Minster, alardeada como "a maior catedral gótica ao norte dos Alpes". Não sei exatamente qual a importância disso, mas efetivamente o troço é grande. Em vez de um domo, possui uma torre central quadrada, na qual é possível subir por 275 degraus e ter umas vistas legais da cidade (mas não acho que valha as cinco libras adicionais). Havia uma exposição no subsolo que incluía alguns restos romanos sobre a qual a Minster foi construída, mas fechava já às cinco. Felizmente, os tíquetes lá tem a estranha característica de serem válidos por um ano após a compra, então pude retornar no outro dia.
               Na terça feira, acordei em horário recorde (oito!) para aproveitar bem meu único dia de verdade em York. Mas o "full English breakfast" do hotel me derrubou por um tempo (inclui ovos, bacon, salsicha, mursilha, cogumelos, feijões e torradas). Deve ser uma reminiscência da Revolução Industrial, quando nego acordava, comia aquilo e ia para a fábrica trabalhar 16 horas seguidas.
               Recuperado, fui até a cidade e comecei por outra das atrações históricas mais famosas da cidade, o Jorvik Viking Center. O centro foi montado sobre um local onde arqueólogos descobriram um conjunto de algumas casas e ruelas do século IX praticamente intactos. Não é possível ver o sítio em si, mas fizeram uma interessante reconstrução do lugar como poderia ter sido na época viking, por onde você passa em um carrinho suspenso enquanto o áudio vai explicando as coisas. Além das casas, uma série de bonecos muito bem feitos interage entre si e com quem vai passando. Desta vez, achei a "interatividade" legal, pois é uma coisa diferente e bem feita. Para o resto do centro, vale aquilo que falei sobre o museu de história natural.
               Foi menos de uma hora no Jorvik. Dali, fui para o York Castle Museu, que fica próximo. Subi na pequena torre em ruínas ao lado, que dá mais uma vista interessante dos arredores, embora cinco libras novamente parece demais por isso. No museu mesmo me diverti mais, pois tem uma série de mostras bem variáveis, mas com um grande destaque: uma reconstrução da York vitoriana com tudo o que merece. Uma rua principal, vielas laterais escuras, casinhas de todos os ofícios, várias delas com interior completo, e até um ciclo de noite e dia na base de sons e luzes. Muito legal para caminhar um pouco, explorando os meandros e objetos de época disponíveis.
               Após sair do museu, passei de novo na York Minster para ver com mais calma a exposição subterrânea, e daí passei na frente de uma "casa assombrada". York está cheia de histórias de fantasmas, e de noite rolam várias "ghost walks" (daquele estilo mais para rir que pra tremer). Esse local em particular clamava ser uma casa bem antiga e sem firulas, apenas com a presença dos Antigos Espíritos do Mal. Não que eu me incomodasse com isso e até bateria papo se surgisse um fantasminha camarada (ou o Mun-Rá), mas o ambiente tétrico por si só poderia ser interessante. Mas já estava meio desconfiado, e vi que a entrada do lugar era uma loja de artigos místicos, leitura de tarô e coisas do tipo. É, efetivamente não era minha cara...
               Então rumei para outro museu, o Yorkshire museu. Ali, uma coleção legal de peças de toda a história da região, dos romanos à Renascença, além de uma pequena mostra meio fora de contexto, sobre extinções (mas tinha fósseis, então tá ótimo!). Como bônus, o museu fica em um parque ocupado anteriormente por uma abadia, e por todos os cantos há ruínas do velho local.
               Para finalizar a tarde, queria fazer uma caminhada sobre as muralhas da cidade, mas o portão de entrada próximo ao museu estava trancado. Fiquei meio decepcionado e achei que as muralhas fechavam no mesmo horário que as outras atrações históricas (quase tudo às cinco da tarde), embora tivessem me dito que ficavam abertas até o anoitecer. O jeito foi fechar o dia com outro tipo de tour histórico: tomando uma cerveja e beliscando algo em um pub de 400 anos de idade. E depois descobri um que dizia ter 500, e isso mereceu uma outra dose.
               Na cidade (e em toda Inglaterra) há um movimento para resgatar o estilo antigo de servir cerveja, ou seja, direto do barril, sem filtragem ou adição de gás, só aquele gerado pela fermentação. Eles chamam de "cask ales" (ou, mais esnobemente, "real ales"), em oposição às draft/draught, que são tiradas do barril com pressão e uma carga adicional de gás. Então, basicamente, é uma cerveja choca, e costuma ter menos álcool também (entre 3,8 e 4,1%). São boas, mas, talvez pelo costume, ainda prefiro as mais gasosas.
               E, na volta para o hotel, passei por outro portão e vi que as muralhas estavam realmente abertas. Era só aquele portão que estava fechado! Então rolou passear um pouco por ali. Isso até mereceu mais uma cerveja (com o bonito nome de "Hobgoblin") para tomar no quarto e encerrar a noite nas alturas.
               Foi só um dia e meio em York, mas bem aproveitado. Valeu bastante a pena ter ido lá. Pelo menos naquela região do centro histórico, é uma cidade bem turística e gostosa de conhecer. É bem compacta também, e dá para caminhar de um ponto a outro com muita facilidade. Tem uma série de outras atrações (ou armadilhas) para turistas, embora não sei se eu teria algo para fazer ficando lá mais um dia (achar um pub de 600 anos, talvez?). Em todos os casos, estando a apenas duas horas de Londres, vale uma passada para qualquer um que for gastar mais tempo na Inglaterra.

Dublin (e Irlanda)
               A quarta feira foi um longo dia de translado. Peguei três trens para ir de York até Holyhead, o porto no litoral do País de Gales de onde saem os ferries para Dublin. Ali a pontualidade irlandesa entrou em cena, e o barco atrasou quase uma hora para começar a viagem de 1:45 até a capital. Pena que o dia estava feio, nublado e com ventania, então não deu nem para aproveitar o deck do barco. Somando todo o tempo gasto em translados e atrasos, cheguei no porto mesmo só às oito da noite. Meu hotel era bem próximo, por isso me rendi a um táxi e logo estava lá. No caminho, bati um papo (ou tentei, enfrentando o sotaque irlandês) com o taxista, e ele me disse para tomar cuidado "porque Dublin é diferente das outras cidades européias, crimes acontecem". Sim, a preocupação deles é que "crimes acontecem". Então fiquei de boa e só tomei os mesmos cuidados que tomaria no Brasil.
               O hotel ficava de frente para o principal rio da cidade. Tinha um pub no térreo que estava fervilhando quando cheguei. Mas o quarto no terceiro andar era silencioso e confortável. Tinha comido no barco (novamente um English breakfast, mas sem a parte "leve", tomate e cogumelos), então fui direto (enrolar na internet e) dormir.
               Na manhã seguinte, acordei às nove para tomar café da manhã (e adivinha? English - ou Irish? - breakfast!) , e depois fiquei no quarto pensando a sério como usar os próximos dias. Minha idéia inicial era dois passeios de um dia em locais próximos, além de um dia para Dublin mesmo, e um dia sobrando que não sabia bem ainda como usar. No fim, o dia em Dublin virou duas tardes, e o dia extra, duas manhãs mortas no quarto do hotel, sendo esta a primeira.
               O clima na Inglaterra tinha estado razoável naquela semana. Nenhum calorzão digno de verão e céu sempre parcialmente nublado. Mas até dava para usar Havaianas. Em York, mais ao norte, já fazia friozinho no começo da manhã e cair da noite, mesmo com sol. Em Dublin, o tempo ficou ruim mesmo. Nesse primeiro dia, estava com vento, chuva e frio. Mesmo assim, não quis deixá-lo passar em branco, então fui para o centro, o que dava uns 15 minutos de caminhada.
               Num primeiro momento, mesmo com mapa, consegui me perder bastante no centro movimentado, mais caótico que o normal por causa da chuva. Acho que tem alguma antiga magia pagã celta em ação na cidade, que faz com que as ruas mudem de direção quando você entra em algum lugar. Mas finalmente consegui achar um McDonald's para descansar a barriga dos cafés da manhã (quando você começa a achar Big Mac com side salad uma refeição leve, é porque a coisa está feia mesmo).
               Após o bate papo com o Ronald, fui visitar o Museu Nacional de Arqueologia, pois sempre são lugares bons para investir tempo em dias de chuva. O museu não é muito grande, mas, de qualquer maneira, eu tinha pouco tempo (cheguei 14:30 e tudo também fecha às 17:00). Mesmo assim, possui algumas coisas muito legais. De cara começava com uma impressionante exibição de artefatos de ouro das Idades do Bronze e Ferro irlandesas, cobrindo um período entre 2200 e 700 a.C. Além disso, uma coleção mostrando a transição religiosa da Irlanda (infelizmente, mostrando muito pouco do paganismo, e mais do desenvolvimento do cristianismo a partir do século VI). Interessante também as coleções da época viking e medieval. O maior destaque, porém, ficou para os corpos da Idade do Ferro encontrados em pântanos. Nenhum tão bem conservado quanto o Homem de Lindow, que tinha visto no British Museum, mas para compensar havia um maior número deles.
               Em duas horas eu já tinha passado por tudo, então ainda tinha meia hora antes dos museus fecharem, e o de História Natural era bem perto. Corri para lá, mais para ver o que tinha e se valeria a pena passar em outro momento (já que a entrada era gratuita mesmo). E fiquei lá menos de dez minutos, incluindo a ida ao banheiro. O formato é aquele que gosto, duas salas enormes cheias de bichos e nomes. Mas eram basicamente só animais atuais empalhados, o que não é me empolga tanto, então logo voltei ao hotel.
               Sexta feira foi o dia do primeiro bate-e-volta, para Cashel, bem no meio do país. Minha maior preocupação era com o tempo, mas amanheceu um dia lindo (que logo virou aquele dia típico de verão do norte europeu, com muitas nuvens no céu, mas ao menos não choveu). No quarto dia, o café da manhã inglês já não estava descendo, então pedi "apenas" ovos, torradas e bacon. Fui até a estação central de ônibus, que também era próxima do hotel, pois na Irlanda as linhas ferroviárias não são tão desenvolvidas assim, e vale a pena ir de busão. A pontualidade irlandesa entrou em jogo novamente, e, em vez de meio dia, como previsto, cheguei quase uma da tarde no meu destino.
               Cashel é uma típica cidadezinha/vilarejo irlandês de interior, mas com um certo foco em turismo. A atração principal é a Rock of Cashel, um morrinho de onde (segundo lendas, claro) governavam os reis de Munster, um importante reino celta do primeiro milênio d.C. O local foi passado à igreja cristã na virada do milênio e entre os séculos XII-XIII foram erguidas as construções que lá ainda permanecem, em ruínas desde que os exércitos ingleses passaram o rodo nos padrecos, no século XVII.
               Eu achava que o complexo era um castelo, com salas e meandros para serem explorados. Entretanto, é só uma grande igreja, com outra pequena construção para moradia ao lado. Além disso, uma das principais capelas da igreja está fechada para restauração e andaimes cercam metade das ruínas. Tudo isso me fez ficar meio decepcionado, ainda mais com a propaganda que é feita sobre o lugar. O que tem lá ainda é interessante, claro. A ruína em si é bonita, a colina é murada e há séculos as pessoas a usam como cemitério, então uma série de sepulturas, monumentos e cruzes celtas rodeiam a igreja. Mas não é um lugar fora de série.
               Me chamou mais a atenção ruínas de outra igreja que podiam ser vistas da colina, no meio de um pequeno pasto. De longe, não vi ninguém andando por elas, nem um guichê de recepção, parecendo efetivamente abandonadas às moscas e vacas. Desci a colina então, em busca de uma entrada que parecia não existir. Outro casal estava na mesma, interessados, mas sem saber o que fazer. Então pulei o muro de pedra do pasto mesmo e rumei para as ruínas, atento a cachorros, bois brabos ou irlandeses com espingarda. O casal veio logo atrás e fomos seguidos por mais algumas pessoas. Se fosse para ser preso, pelo menos não iria sozinho!
               No fim, o local até tem uma entrada "legal" (só não dava para vê-la) e pode ser visitado, mas não tem ninguém de guarda. É a Hore Abbey, construída e abandonada mais ou menos nas mesmas épocas que a Rock. Tem mais aposentos também, embora tudo o que tenha sobrado das partes habitacionais sejam paredes. Poder andar por ali sem restrições, só com mais meia dúzia de pessoas com quem mal cruzava, foi bem mais legal que encarar os andaimes da irmã mais famosa.
               Também não é um local para se perder horas, então fui caminhar no centro da vila em busca de mais alguns pontos de interesse. Alguns nem eram tão interessantes, outros estavam fechados no meio da tarde de sexta (veja só, e a cidade quer ser turística!). Era três e quarenta e eu estava de boa. Um dos horários previstos dos ônibus que passam a cada duas horas lá era 15:25, então fiquei esperando, crente que a pontualidade irlandesa me favoreceria agora. Mas nem. Fiquei até quatro e meia esperando para nada. Há outra magia celta local que prevê que, a cada 738 ascendências de Urano em Sagitário, um ônibus passa na hora, e era aquele. Decidi voltar à Rock para gastar mais algum tempo, e voltei ao ponto um pouco antes do próximo horário, das 17:25. Que, logicamente, passou só depois das seis.
               Valeu a pena ter ido a Cashel, embora não tenha sido tudo o que eu esperava. Posso ao menos dizer que dei uma passeada pelo interior do país. Engraçado que todas as paisagens de planície do norte europeu são muito parecidas, então não foi diferente do que viajar pela Alemanha, Dinamarca ou Inglaterra. É plantação, plantação, pasto, vilarejo, plantação, pequeno fragmento de pinheiros, plantação... A única diferença que percebi na Irlanda é o maior número de ovelhas.
               De volta à Dublin, tinha duas opções. Ou encarar o outro bate-e-volta já no dia seguinte, ou deixar para domingo e andar por Dublin no sábado. Queria ir para o vale de Glendalough, onde ruínas monásticas se misturam com um parque natural. O clima, entretanto, era essencial para esse passeio, e se deixasse para domingo e chovesse, teria perdido a chance. Então decidi que só não iria se estivesse chovendo pra valer. A região é bem mais próxima de Dublin, mas com pouco acesso por transporte público. O melhor é pegar uma excursão que leva e traz no mesmo dia. Convenientemente, descobri uma que saía só 11:30 e ia direto ao vale, voltando 17:40. A outra, que saía às dez, ainda parava em outros vilarejos, então achei que seria muito corrido.
               Pude acordar só às dez e, de quebra perder o café da manhã (iei!). Amanheceu com o tempo completamente nublado, o que me deu uma brochada, mas fui mesmo assim. Cheguei com vinte minutos de antecedência, pois aquele ônibus não vendia passagem antecipada, e já tinha uma fila no local. Não teria problema, na real, pois na Irlanda os ônibus parecem ser pinga-pinga mesmo, faltou assento vai de pé. Mas assim garanti um lugar na janela. A pontualidade irlandesa foi gentil dessa vez, e chegamos ao vale pouco antes da uma, quase no horário previsto.
               Glendalough significa "dois lagos", por causa da principal característica geográfica do vale. Ali, um dos principais santos irlandeses, São Kevin (qual a versão abrasileirada de Kevin?), veio se estabelecer como eremita no século VI. Sua solidão não demorou muito, pois logo outros monges vieram se juntar a ele, e Glendalough se tornou o principal centro religioso da região. A partir do século XIII, entrou em declínio e foi abandonado no século seguinte. Desde lá, tudo o que resta do período monástico são ruínas, também cercadas por sepulturas mais recentes.
               As ruínas monásticas são legais, com certeza, mas o mais interessante do local é sair andando pelas trilhas do parque. Chamar o lugar de "parque natural" tem um sentido diferente na Europa, pois praticamente tudo lá já foi e ainda é usado e manejado. Então são caminhos que seguem por áreas florestadas ou "pastos melhorados", com os lagos de um lado e os penhascos de outro. Não é um vale especialmente profundo ou cênico, mas apenas caminhar em paz por uma área bonita já foi o bastante. A trilha que peguei terminava no início do vale, quando o rio vira cascata, e havia os remanescentes de uma vila de mineiros do século XIX. O tempo melhorou, o sol até se mostrou algumas vezes, e, nos momentos em que choveu, eu estava protegido pelas árvores.
               O tempo curto, infelizmente, não me permitia pegar as trilhas mais longas e complicadas. Fiquei por lá caminhando e vendo as ruínas ocasionais até a hora de voltar. Sem atrasos também, então às sete estávamos em Dublin. Foi um dia bem agradável em Glendalough. Mudar um pouco de ares e ver umas paisagens legais sempre é bom. Ainda mais se tem ruínas seculares pelo caminho!
               O último dia em Dublin também foi em marcha lenta. Acordei tarde e saí do hotel só perto do meio dia. Parei em uma loja para comprar besteiras irlandesas e depois fui em busca dos pontos de interesse da cidade, na sua parte antiga pero no mucho. Fora as igrejas, não há muita coisa anterior ao fim da Idade Média por lá. A catedral católica, a Christ Church, é muito bonita por fora. Mas por dentro não me pareceu muito diferente, então nem paguei para entrar. Preferi ir no prédio em anexo, onde fica a Dublinia, uma exposição sobre a cidade na época viking e medieval. Dublin foi, efetivamente, fundada por escandinavos no século IX e efetivamente permaneceu na mão deles até o vagalhão normando atingir a Irlanda, no século XII. A exposição em Dublinia não é arqueológica: o que tem são textos informativos, reconstruções, bonecos e outras coisinhas interativas. Já falei que isso não me empolga tanto, mas nesse caso até que gostei. Talvez porque não tinha tanta gente, ou por já estar meio saturado e querendo coisas diferentes. Ou talvez só por provar mais uns elmos diferentes!
               Dali, fui para a outra catedral, a anglicana. Só que bem na hora a catedral de São Patrício estava tendo culto e fechada à visitação. Sem Deus na minha vida, o negócio foi ir atrás de cerveja. Caminhei um tanto até a Guiness Storehouse, o centro interativo/propagandista que a maior cervejaria da Europa criou para glorificar a si mesma. É também uma das atrações mais visitadas de Dublin, pelo movimento que tinha lá. Mas, de boa, é puro marketing. Tem umas mostras meia boca mostrando o processo de fabricação e transporte, tudo na base da tela de TV. Umas outras firulas sobre a história da marca. Tem uma "academia" para você aprender a servir seu pint (note a falta do "o", por favor) perfeito. Legal, né? Sim, se você quiser pegar a fila para chegar lá. Daí tem um lounge para degustadores de cerveja. Opa, uma boa, não? É, se você quiser pegar a fila e pagar mais uma taxa adicional para entrar. No fim, o a única coisa que diminui o prejuízo da cara entrada (17 euros) é um pint "cortesia" servido num bar circular com visão panorâmica.
               Eu gosto de Guiness, acho uma boa cerveja, e não há como negar que eles sabem trabalhar a marca. Mas a Storehouse é um baita migué de sete andares. E engraçado que nem vi menção à mistura com nitrogênio na hora de embalar, o maior diferencial da cerveja, que gera aquela espuma cremosa que dá vontade de tomar por si só.
               Depois dali, voltei para a São Patrício e pude entrar. Nada muito diferente também. É uma igreja bem grande e com coisas legais dentro, mas à essa altura já vi tantas que precisa de algo diferente para fazer meu queixo cair. Voltei para o hotel então, pois teria que acordar cedo no outro dia. Pelo menos a presença do pub no térreo facilitou bastante a tarefa de tomar aquela gelada antes de dormir todo dia!
               Dublin não me impressionou muito, mas pode ter sido por já ter passado bastante tempo no norte Europeu, vendo coisas parecidas. A cidade é mais zoada que outras capitais européias, mas não se aproxima do caos de Roma, por exemplo. Por outro lado, não possui a riqueza de antiguidades que torna a outra interessante. Algumas coisas lá foram bem legais nesses dias (o museu, Hore Abbey, Glendalough), mas, de modo geral, aproveitei pouco os quatro dias. Talvez devesse ter feito uma pesquisa maior por coisas diferentes nas redondezas, ou ter efetivamente dado uma volta pelo país, em vez de usar a capital como base. Mas isso exigiria mais tempo, tanto de preparação como de viagem.
               Houve coisas que queria muito ver, mas não valiam a pena, como Newgrange, a mais famosa das tumbas monolíticas do começo da Idade do Bronze. Mas era longe de Dublin, socado de gente (pelas informações que vi) e um sítio relativamente limitado (tá, tu vai lá, vê o túnel de alguns metros, acha legal pra caramba, e deu). É a mesma coisa que me desestimulou de ver Stonehenge, nas redondezas de Londres. São locais que ficarão para um outro momento, possivelmente fora da alta temporada, quando eu fizer um roteiro por cidades menores, históricas (como York). Pois, das capitais, estou de boa.

3 comentários:

Rodrigo Oliveira disse...

Sempre bom acompanhar a viagem por aqui meu velho. Apesar que eu acho que me entupiu um veia aqui só de ler esses cafés da manhã. Abraço e boas viagens. Que eu vou acompanhando por aqui.

sara mãe disse...

Também vou viajando contigo.Claro que sinto falta de um certo deslumbramento e maravilhamento que sentes em alguns lugares.Talvez por serem locais muito parecidos, como dizes. Tenho certeza que isto virá nos relatos gregos. Sinto que tenho como filho um "grego"disfarçado de "germânico".
Boa peregrinação!

Fábio Ricardo disse...

Não sei pq, mas nunca imaginei a Inglaterra como um local medieval. Sempre quando penso no medieval penso (tirando Tagmar) numa parte mais oriental da Europa.

Viagem duca! Vai contando que a gente vai lendo!