quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Santorini Blues e o Colosso (que é osso) de Rodes

A jornada grega novamente se encerrou. E novamente fico com vontade de voltar em breve. Este país é muito foda, pelo menos para turistas que só precisam curtir. Realmente, continuei vendo vários lugares falidos e várias criancinhas com sanfonas pedindo dinheiro na rua ou no metrô. Mas, nas ilhas (ou em algumas delas, ao menos) a vida parece seguir de boa. E é isso que nos interessa agora, vamos lá.

Santorini

    Depois de todo rolo anterior, cheguei em Santorini 19:15. Com a mala estragada, peguei um táxi mesmo para o hotel. Bom que a praia onde fiquei, Kamari, é a mais próxima dele, e dez minutos e 15 euros depois, cheguei lá. Era um hotel no estilo dos vários que tem ali, pequeno, mas muito aconchegante (por algum motivo eles chamam essas coisas lá de “studios”... mas é como uma pousada normal). Larguei minhas tralhas, tomei um longo banho e comecei a dissipar o estresse, que evaporou de vez logo depois, quando caminhei menos de 100 metros para estar na beira da praia. Sentei em um dos vários restaurantes no calçadão e pude curtir o polvo grelhado que tinha ficado na minha cabeça desde o ano passado.

    Na volta, passei em uma agência turística que foi extremamente útil naqueles dias, pois dava informações e arranjava todo tipo de excursão pela ilha. Em uma conversa com o dono do hotel depois, acabou meu receio de que tudo seria muito corrido por lá. Porque, pelas informações que eu tinha, os sítios e museus todos estavam naquele esquema de fechar no começo ou final da tarde. Mas, na realidade, as horas eram mais flexíveis, os fechamentos variando entre três e cinco da tarde.

    Fui dormir o mais cedo que deu para acordar oito horas na sexta e pegar o primeiro ônibus que subia até o sítio de Thera Antiga, bem do lado de onde eu estava. Só que tem uma subidinha cabreira que não valia o esforço e o tempo. É um dos sítios mais legais que já visitei, principalmente pela localização. Trata-se de um conjunto de dois dos mais altos morros da ilha. No mais alto, no qual não fui, tem um velho monastério cristão de onde dá para ver toda Santorini (porque é pequena, você vê água o tempo todo e tem realmente a impressão de estar numa ilha). No topo do segundo, à beira do mar, se espalha a antiga cidade grega/romana. Os restos de casas e templos se amontoam no meio das pedras e se penduram vertiginosamente na beira do morro. Fico imaginando no que os fundadores da cidade pensavam. Por mais segura que fosse a localização (e maravilhosa a paisagem), valia a pena o esforço diário de subir e descer todo o caminho para fazer qualquer coisa nas planícies ou no mar, 350 metros lá embaixo? Quem não reclama são os inúmeros lagartinhos que correm felizes da vida pelas antigas construções. Tentei várias vezes pegar um, sem sucesso. Capturar um lagarto preguiçoso que se enterra na areia é bem diferente de um superativo que se enfia nas frestas das rochas...

    Depois de duas horas ali, desci novamente com o ônibus, meio dia. Na agência, descobri uma excursão de barco que saía da principal vila da ilha, Firá, passava por alguns pontos turísticos marinhos e terminava com o famoso pôr-do-sol grego visto do mar. O barco saía do porto 15:30, o que me dava um tempo bem satisfatório para dar uma olhada em Firá e seus museus. Só dei um pulo no hotel para trocar o tênis pela Havaianas e peguei o ônibus para lá. Ao chegar, comi um fast-food grego à base de souvalaki (espetinho de carne de ovelha) e pita de gyros (um pão grego enrolado e recheado com batata, salada e gyros – o famigerado churrasquinho grego, aquela montanha de carne que fica girando em um espeto vertical) e fugi do calor no Museu da Pré-História de Firá.

    O nome do museu é enganador, pois o que tem ali são coisas do período histórico, mais precisamente os achados de Akrotiri, o sítio minóico no sul da ilha que foi destruído pela grande erupção do século XVII a.C. Semelhante à Pompéia italiana, vários objetos (mas nenhum corpo) permaneceram preservados sob a cinza vulcânica, incluindo alguns afrescos impressionantes. O museu é novo e pequeno, mas legal de visitar e deu água na boca para visitar Akrotiri in situ no outro dia.

    Saindo dali, dei uma caminhada rápida por Firá, aproveitando para ter as primeiras visões da paisagem bizarra e magnífica que o estouro do vulcão deixou para trás. Esta erupção, uma das maiores registradas no período histórco, botou todo Mediterrâneo para dançar e, suspeita-se, foi o golpe que botou abaixo de vez a civilização minóica. Como 3700 anos é um nada em termos geológicos, os penhascos formados no evento estão ali e o intemperismo não teve tempo de apagar a assinatura das camadas geológicas nele. É perfeitamente possível ver a camada original, a camada formada pela erupção, e aquelas mais antigas de eventos geológicos anteriores. É como ver um bolo cortado, só que do tamanho de uma ilha.

    A minha passada no outro museu, o Arqueológico, que tem os achados de Thera Antiga e outros sítios da ilha, durou menos de 15 minutos, porque é um troço minúsculo e sem graça para caramba. Preferi ir direto para a longa descida de 600 degraus que leva de Firá até o pequeno porto na base do penhasco, de onde saem os barcos turísticos. O caminho também pode ser feito de bondinho (que tinha uma fila gigante) ou de burro, mas me deu pena dos bichinhos tendo que subir e descer os degraus o tempo todo com turistas nas costas.

   Do porto, saí com o barco (tamanho médio, como aqueles que fazem os passeios dos piratas em Porto Belo) e uma penca de turistas em direção ao vulcão (sim, isso mesmo), no meio do semicírculo formado pelas ilhas maiores. Pudemos ficar uma hora e meia na ilhota, que é um deserto de pedras vulcânicas e crateras, com pouquíssima vida animal ou vegetal se instalando nos redutos mais protegidos. O vulcão ainda está ativo, tendo ocorrido bastante atividade na primeira metade do século XX, mas desde lá está quieto. O único sinal são algumas fumarolas esverdeadas soltando um pouco de fumaça e cheirando a enxofre.

    Dali, o barco partiu para uma pequena enseada em outra ilhota que, pelo que entendi, tem água aquecida por influência vulcânica. Ali a galera pôde pular do barco, e realmente tinha alguns pontos de água mais quente (que, espero, fossem relacionados a vulcões e não a pessoas se aliviando).

    Depois, o barco foi costeando as ilhas e a cratera por um bom tempo, até parar em um ponto da baía do qual se pode ver o sol mergulhar no mar em um dia totalmente limpo. No nosso caso, tinha um pouco de névoa no horizonte, então ele se escondeu um pouquinho antes, mas foi bonito do mesmo jeito. Nos minutos derradeiros, com o sol ficando muito vermelho e sumindo rapidamente, gravei tudo... na minha mente, porque não apertei direito o botão da máquina e ela não iniciou a gravação. Mas tudo bem. Com uma salva de palmas e um buzinaço na orelha, o barco voltou ao porto, passando das oito e meia. O passeio valeu muito a pena, tendo durado mais de cinco horas e custado só 25 euros.

    Voltando de ônibus a Kamari, fui direto jantar (frutos do mar na praia, é claro) e voltei ao hotel depois das dez. Foi um dia maravilhosamente bem aproveitado, o melhor do passeio até aquele momento.

    Depois de curtir a vida adoidado na sexta, engatei a marcha lenta no sábado. Só dez da manhã peguei os ônibus para chegar a Akrotiri. Até tinha excursão para aquele lugar, mas a ilha é pequena (pouco mais de 20 quilômetros de ponta a ponta) e tem um sistema de ônibus eficiente para seu tamanho. E pouca coisa é melhor do que o bom e velho “vou quando quiser, volto quando quiser” que as agências de turismo odeiam.

    Ali, no sul da ilha, visitei Akrotiri, que tem como característica chamativa ser um sítio totalmente coberto, para proteger as escavações em andamento. Esta cobertura é a mesma que, em 2005, desabou logo após ser concluída e matou um visitante, o que fez o local fechar e só reabrir em abril deste ano. Agora, a cobertura parece bem firme, e deu para caminhar de boa pelas passarelas que foram montadas entre as construções milenares.

Como falei de Knossos, no ano passado, é preciso ter uma atitude diferente ao visitar um lugar desses. Não existem restos de grandes templos, colunas caídas e pedaços de colossais estátuas de mármore espalhados pelo chão. Nada aqui vai impressionar pela força bruta ou pelo tamanho do documento. Estamos falando de um tempo muito antigo, mais de mil anos antes do comecinho daquilo que conhecemos como Antiguidade Clássica. É o tempo em que as civilizações estavam nascendo na Europa, quando um aglomerado de casas de um ou dois andares constituía uma organização de fazer inveja a qualquer tribo espalhada pelo resto do continente. Ao mesmo tempo, reparamos como algumas coisas já faziam parte da civilização desde seus primórdios: o comércio com regiões distantes; a tentativa de representar o mundo pela arte em vasos, afrescos e estatuetas; os modismos e padrões estabelecidos; a diferença entre classes sociais.

    É essa diferença de atitude que faz algumas pessoas ficarem um pouco decepcionadas e passarem atropeladas por certos locais importantes mais pelo seu significado do que por sua aparência. Enquanto outras tentam buscar os detalhes e os sentimentos evocados pela contextualização do que está lá. Mesmo para as segundas, porém, o aproveitamento da visita a Akrotiri é prejudicado pela pouca informação disponível, em forma de cartazes ou folders, para explicar o que está lá. Eles até pedem a compreensão das pessoas em letras garrafais pela falta de explicações, pois é um sítio em pleno trabalho de descoberta. Talvez, neste lugar em especial, valeria a pena ter superado a minha ojeriza por visitas guiadas, pois peguei de soslaio o comecinho de uma e o guia parecia ter bastante informação para passar.

    Depois de uma hora e meia ali, saí para andar pelas redondezas, que conta com uma baía protegida com vários barquinhos de pesca artesanais e uma meia dúzia de tavernas. Um pouco mais adiante, a Praia Vermelha, uma pequena praia de areia no sopé de um penhasco, que me pareceu bem disputada pela gurizada. Como não estava preparado para pegar praia, tirei umas fotos, almocei em uma taberna na baía e voltei para Kamari.

    Ali, dei um tempo na correria e fiquei morgando no ar condicionado do confortável quarto do hotel até a hora da final do futebol olímpico. O canal em italiano saiu do ar bem na hora do jogo, então o jeito foi assistir em alemão. Depois do fiasco que todos viram, saí para dar uma andada curta pela própria Kamari, que é uma das praias mais populares de lá. A praia é de pedras, como muitas na Grécia, em vez de areia, então não dá para dar aquelas longas caminhadas que a gente faz no Brasil (só se for pelos calçadões). Jantei durante o pôr do sol (que não é visível daquele lado da ilha) e voltei ao hotel. Aproveitei que tinha que estar no aeroporto só onze da manhã do outro dia para dar uma esticada a mais no sono. Pois em Rodes as coisas seriam mais corridas.

    Sem delongas: Santorini é do caralho. As paisagens são maravilhosas, a história é rica e os vilarejos são agradáveis. Ali impera um clima bem praiano, como no verão brasileiro, com tudo disponível e aberto desde a manhã até tarde da noite. Uma coisa particularmente me surpreendeu: eu imaginava que a pequena ilha que é atração mundialmente conhecida estaria atulhada de gente no início de agosto, pico da temporada. Mas estava tudo muito tranquilo. Com gente, claro, mas em momento algum me incomodei com ônibus socado, fila e gente empilhada nas atrações principais ou necessidade de reservar lugar/passagem com antecedência. Perguntei para o taxista quando cheguei se a ilha estava cheia e ele disse que “não muito, talvez 75%”. Entretanto, mesmo colocando mais 25% na história as coisas não teriam ficado desconfortáveis. Claro, posso ter dado sorte de ter ido relativamente cedo nos sítios e não ter me hospedado em Firá, onde as coisas parecem mais agitadas. Mas, definitivamente, não chega nem perto da loucura que é a alta temporada no litoral do Brasil.

Rodes

    No domingo peguei o avião para Rodes. Que, na verdade, voltava até Atenas e depois ia para lá. Cheguei três e alguma coisa, sem muita idéia de como chegar no meu hotel. Mas pegando o primeiro ônibus que vi pela frente e saltando em algum lugar que parecia ser o certo, dei de cara imediatamente com ele. O melhor que fiquei até agora na viagem, pois era bem confortável, estava a 30 metros da praia e meu quarto tinha sacada com vista para o mar absurdamente azul do Mediterrâneo. Também estava na própria Cidade de Rodes, principal local da ilha, no extremo norte desta.

    Para aproveitar algo do dia, logo saí do hotel e dei uma caminhada pela praia e costão, parando para um banho de mar na volta. Novamente uma praia de pedra, onde você consegue andar apenas alguns metros dentro da água antes do chão ir lá para baixo. Mas, mesmo não sendo uma praia de baía, as ondas e correntes não são fortes, e a água é realmente morna (nem refresca no calor, para ser sincero). Deve ser a proximidade com a Turquia, que dava para ver ao longe. Com mais um básico jantar à beira mar, dei este dia como encerrado. Porque precisava acordar cedo no seguinte.

    Tive alguns problemas nos dois dias efetivos que tive para explorar Rodes. Para começar, peguei uma segunda feira logo de cara, o dia em que os gregos, já não muito fãs de trabalhar, resolvem fechar a maioria das coisas turísticas ou fazer um horário reduzido. A segunda foi que o transporte aqui não é nada eficiente. A ilha tem uma área três vezes maior que Florianópolis, mas apenas cento e poucos mil habitantes. Assim, muitos locais de interesse estão bem longe e há poucos horários de ônibus. Não é a toa que as locadoras de carro proliferam aqui. É o único jeito de fazer um tempo limitado render, pena que só percebi isso tarde demais.

    Então, principalmente devidos aos horários/dias de fechamento, comecei com o sítio arqueológico mais famoso da ilha, a Acrópole de Lindos, que foi um dos santuários mais importantes da Grécia antiga. O vilarejo fica bem afastado para o sul, então encarei uma hora e quinze de busão até chegar lá, pouco antes das onze horas. Temendo a invasão de turistas que o meu guia de viagem alertou, fui direto à acrópole, que realmente é um lugar a ser visitado. Achei legal porque ele permite uma circulação até que bem livre, embora, como o esperado, não tenha muito das coisas antigas de pé, e o que está de pé é resultado de restauração.

   Fiquei uma hora e meia por lá. Na volta, já percebi uma maior quantidade de gente chegando, então fiz bem em chegar “cedo”. Olhei os horários de ônibus e vi que teria um de volta às 13:00 e outro só 14:30. Decidi pegar o primeiro mesmo, sem nem andar mais pela vila e pela praia. Na volta, o ônibus se transformou em um verdadeiro pinga-pinga, levando mais uma hora e quinze para retornar. Saldo total: duas horas e meia de translado para duas horas em Lindos. Por mais que a acrópole seja um ponto imperdível, é bom ir preparado para passar o dia lá e fazer a viagem valer a pena.

    Preferi estar de volta mais cedo e pegar praia na frente do hotel mesmo. Somei a isso algum tempo tomando uma gelada no bar do hotel e morgando, e fui para outro ponto escolhido por ser o único que fica aberto até de noite todos os dias, o Aquário de Rodes. Me atraiu a propaganda do guia de que é o aquário mais importante da Grécia. Bem, isso não quer dizer que seja melhor do que qualquer um na Alemanha. Não é particularmente grande ou contém coisas de outro mundo. Ainda assim, curti, porque eram bichos, e tinha alguns que eu nunca tinha visto (os invertebrados sendo mais legais que os peixes).

    Sem mais nada aberto para ver, pensei no que fazer no próximo dia. Tinha três coisas que queria muito ver ainda. Os sítios das duas outras cidades da Grécia arcaica, Kameiros e Ialyssos (que, junto com Lindos, se uniram no final do século V a.C. para formar a cidade de Rodes), e, claro, a cidade medieval de Rodes. Pelo que eu sabia, Kameiros é mais legal que Ialyssos, só que era tão longe quanto Lindos e com apenas dois horários de ônibus para lá (!). Para ver tudo, só se alugasse um carro, mas mesmo assim ficaria corrido. Então desencanei de Kameiros e decidi dar uma passada em Ialyssos na manhã e depois ir para a cidade medieval.

    Só que, pegando o busão, fiz uma baita confusão na hora de saltar, parando em um ponto bem distante do sítio. Teria que esperar pelo próximo, só meia hora depois. Daí desencanei e fui direto pegar um que voltasse à cidade. Ainda teria uma boa dose de sítios (e bem mais importantes) na Turquia, então não seria uma perda tão grande.

   Tendo perdido 45 minutos nesta história, era apenas onze da manhã quando cheguei na cidade medieval. Mas já passava das sete da noite quando me dei por satisfeito e voltei.

    Esqueça tudo o que você já ouviu falar sobre cidades medievais conservadas, sobre sentir o clima da idade média e etc. Esqueça Heidelberg, Goslar, Lübeck, os castelos de contos de fada de Füssen. Se você alguma vez sonhou em como seria andar por Baldur’s Gate, Minas Tirith ou King’s Landing, é para a Cidade Antiga de Rodes que você deve ir. É, talvez, a cidade medieval ocidental mais bem conservada do mundo, tendo se tornado Patrimônio Cultural da Humanidade por causa disso. As imensas muralhas que cercam a cidade, assim como o imenso fosso e as fortificações estão todas de pé. Dentro dela, a cidade se encontra praticamente da mesma maneira que tomou forma durante o período de ocupação pela Ordem Hospitalária dos Cavaleiros de São João, entre os séculos XIV e XVI (e que, depois de expulsos pelos turcos, se tornaram conhecidos como Ordem de Malta, tendo se mudado para... adivinha!).

    É claro que tem muitas fachadas novas nas casas, toldos e freezers com bebidas. Além disso, o trânsito é permitido ali dentro, então carros circulam por alguns trechos, e motos por todos os lados. Mesmo assim, a profusão de ruelas estreitas, paredes e calçamentos de pedra, arcos ligando prédios, construções de dois andares com janelas de madeira, tudo isso nos leva direto a uma Idade Média real ou idealizada, com pouco esforço de imaginação.

    O castelo principal dentro da cidade fortificada, o Palácio dos Grão-mestres, é um destaque. Mesmo se considerar que todo o segundo nível desabou no século XIX e foi reconstruído de modo meio arbitrário pelos italianos nos anos 30 do século XX, o lugar mantém sua atmosfera. Não é um palácio luxuoso onde vivia uma corte de nobres afetados, como os outros que já visitei, mas realmente uma fortificação central de uma ordem de monges guerreiros, impactante por sua sobriedade e utilitarismo bélico. Claro, há pessoas e crianças berrando correndo por lá, prontas para estragar sua imersão, mas usei uma tática simples: fone de ouvido na orelha e Blind Guardian, Saxon e similares a todo volume. Daí estava pronto para prestar homenagens ao Grão-mestre, pegar as armas no arsenal e partir para as Cruzadas.

    No interior ainda há uma exposição muito interessante sobre a Rodes Medieval. Deveria ter outra sobre a Rodes Antiga, mas por algum motivo estava fechada neste verão. Isto me deu tempo para ir ao Museu de Arqueologia. Que, mesmo que você não tenha o menor interesse em estátuas e cerâmicas da Rodes antiga, vale o ingresso só pela oportunidade de andar pelo prédio que era o hospital dos Hospitalários, com seus aposentos e cortes internos. Para quem gosta de velharias, uma coleção interessante, embora não muito diferente de outras, com uma exceção: alguns grandes mosaicos retirados de casas gregas com cenas mitológicas ocupando paredes inteiras.

    Mas o ponto alto da imersão é uma volta pelo antigo fosso do sistema defensivo, no final da tarde, com praticamente mais ninguém andando por ali. Um local que, no Brasil, viraria banheiro e cracolândia em dois toques, mas, lá, parece bem cuidado (tem que ser, já que a cidade medieval é a principal atração da ilha). Nada como explorar os cantos escondidos, as janelas que se abrem para interiores escuros, as escadarias alquebradas e tomadas por grama levando a pedaços de muralha.

Uma coisa em especial me doeu demais o coração: sob um trecho da muralha, parece haver um complexo de túneis escavados na rocha. Tinha luzes apagadas e cabos elétricos passando por eles, o que me faz pensar que já fizeram parte de alguma visitação, mas no momento permanecem completamente escuros e completamente acessíveis. Mas, sem nem uma luzinha para iluminar o caminho, não tinha como se meter muito fundo neles. Fui entrando no que deu, usando o flash da máquina para iluminar pedaços de parede diferentes e várias bifurcações levando a novos corredores. Não consigo imaginar sua função, se são muito antigos ou relativamente recentes, ou o porquê de estarem ali, abandonados e com as portas de ferro abertas. Mas nunca mesmo senti tanta falta do meu velho Nokia com lanterninha, pois o atual não dava conta.

Depois deste passeio fantástico, voltei ao meu hotel, parando para comprar minha passagem de barco para o outro dia. Jantei novamente no bom restaurante que tinha ido no primeiro dia e matei tempo escrevendo e tomando uma cerveja no bar do hotel. No dia seguinte, teria uma viagem daquelas para encarar rumo à Turquia.

Eu não aproveitei Rodes como gostaria, ou deveria. Deixei várias coisas legais para trás, algumas por ter preferido ficar em um clima praiano mais sossegado (o que é uma escolha perfeitamente válida) e outras pela dificuldade com o transporte locai (o que é uma realidade perfeitamente chata). Um carro aqui faria muita diferença e, se um dia voltar, será a primeira coisa em que pensarei.

4 comentários:

Rodrigo Oliveira disse...

Pô, Rodes paraceu interessante. Ouvi falar mto e vi umas imagens de Mont Saint-Michel, na Normandia eu acho. Pratos cheios pra quem já rolou um d20 por aí.

P.S.: Seus títulos estão cada vez piores. pelamor!

Gisele disse...

Vou conhecer isso tudo também. Vou sim. Vou, vou e vou!

sara disse...

Fiquei ainda com mais vontade de conhecer tudo isso também. Da próxima, quero ir juuunnnntooooo!!!
Ainda mais com um guia como você: misto de professor de história, guia turístico, aventureiro e pensador. Perfeito! Tuas descrições dos sítios e locais visitados são impecáveis!

Ademar disse...

É isso aí. Vamos conseguir mais dinheiro e no ano que vem viajarmos todos juntos.
Pai.